Falso médico atendeu em hospital particular


Além de plantonista na Santa Casa, ex-universitário teria atuado no Hospital Samaritano



O exercício irregular da profissão de médico, da qual o ex-universitário Fernando Henrique Guerreiro, 29 anos, é acusado, pode não se restringir apenas à Santa Casa de Sorocaba. Na tarde desta quarta-feira (12), o setor de administração do Hospital Samaritano revelou ao BOM DIA que a entidade deu início a uma investigação interna para descobrir se o rapaz também realizou plantões na unidade de saúde, com o nome do cirurgião da Capital, Ariosvaldo Diniz Florentino. “Desde que soubemos do caso, iniciamos uma averiguação por conta própria”, explica Ethienni Candiotto, administradora do hospital.

Ela complementa alegando que a equipe médica que atende na área de urgência e de emergência é terceirizada. “Em alguns dias teremos a confirmação se o acusado atendeu ou não os pacientes daqui”, diz.

Vítimas/ Enquanto as investigações da quantidade de locais que Fernando atendeu não se concluem, as vítimas do falsário não param de aparecer.

Entre elas, está a jovem Maria Aparecida da Silva,  16. Ela conta que foi atendida pelo falso médico, pela primeira vez, no início do ano, após ter sua primeira filha. Na Santa Casa, ela adquiriu infecção hospitalar. Dias depois, Maria Aparecida procurou a Unidade Pré-Hospitalar Norte, onde descobriu uma infecção pulmonar e foi encaminhada novamente à Santa Casa com exames em mãos.

Ela ficou internada por nove dias, com o diagnóstico de pneumonia. “Voltei à Santa Casa, foi quando conheci o médico que atendia por Ariosvaldo”, recorda.

Maria foi atendida por ele quatro vezes e se sentia pior a cada consulta. “Reclamava que o remédio não fazia efeito, mas ele dizia que era coisa da minha cabeça, que o raio x mostrava que eu estava melhorando.”

O falso médico também pedia para a jovem retornar somente em seus plantões, mas ela regressou à Santa Casa em outra data e foi atendida por outro plantonista. Foi ele que descobriu que a jovem estava cada vez pior e a orientou a procurar o Posto de Saúde do Parque São Bento, onde mora.

Lá, a médica da unidade de saúde detectou que Maria  estava com um raro tipo de tuberculose. “A médica me disse que por pouco não morri. Por isso eu quero justiça e que este homem pague por tudo o que me fez passar”, desabafa.

Sem volta/ A dona de casa Cláudia Aparecida Santos, 47, não teve a mesma sorte de Maria: ela morreu em  29 de dezembro de 2011, dias depois da consulta com o falso médico Fernando Henrique Guerreiro. “Cláudia tinha câncer e fazia o tratamento regularmente na Policlínica até que houve a necessidade de extrair uma das mamas”, explica seu marido, o aposentado Natalino Aparecido da Silva, 45.

Após a cirurgia, a mulher passou a frequentar a Santa Casa para receber remédios para controlar a dor. “O médico, com o nome de Ariosvaldo, injetou os remédios no soro, direto na veia da minha mulher, que ficou roxa, passou mal e, por isso, o médico procurou outro profissional”, conta. Depois disso, Cláudia não voltou mais a ser a mesma.

Após 20 dias de internação, a dona de casa morreu. No atestado de óbito, assinado pelo médico Ariosvaldo, está “insuficiência respiratória” como causa da morte. “Se fosse pelo câncer, seria por falência de múltiplos órgãos. Sei disso, pois outros dois parentes morreram de câncer”, comenta o aposentado que hoje cria sozinho os três filhos de 11, 16 e 22 anos.
Investigação intensificada

O delegado titular e a delegada assistente do 2º Distrito Policial, juntamente com os escrivãos e a equipe de investigação têm trabalhado intensamente para identificar as possíveis vítimas do falso médico. Por esta razão, a Polícia Civil pede que todas as vítimas procurem pela delegacia e façam o registro da ocorrência, tendo em mãos receituário, pedido de exame ou qualquer outra prova contra Fernando, que utilizava o nome de Ariosvaldo. O 2º DP fica na rua  Nogueira Padilha, 2.127, Vila Hortência. Contato no telefone: (15) 3227-6206. O atendimento é de segunda à sexta-feira,
 das 8h às 18h.
Entenda o caso
18 de setembro de 2012
O universitário Henrique Maciel da Silva, 27 anos, foi morto quando três homens e uma mulher roubaram seu carro, em São Paulo.

23 de novembro de 2012
Camilla Aline da Silva Matias da Rocha, 29, foi presa em Piedade acusada de participar do crime na Capital. Na ocasião, a polícia descobriu que ela estava se passando por médica e foi indicada por um médico chamado Ariosvaldo.

9 de dezembro de 2012
Policiais civis da Capital flagraram Fernando Henrique Guerreiro, 29, atendendo com o nome de Ariosvaldo na Santa Casa de Sorocaba. A suspeita é de que ele possa ter participado do latrocínio do universitário.

11 de dezembro de 2012
Santa Casa e delegacia do Cremesp iniciam trabalho de investigação sobre o caso, assim como o Hospital Samaritano.


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