Fogo danificou as paredes, teto e equipamentos
Jornal Cruzeiro do Sul
Adriane Mendes
adriane.mendes@jcruzeiro.com.br
Ao chegar ontem pela manhã para trabalhar em seu consultório no bairro Vergueiro, uma dentista, que prefere não divulgar o nome, demorou alguns minutos até perceber que a água que escorria para a parte externa não era um simples vazamento, mas sim decorrente do incêndio ateado por vândalos, danificando por completo o imóvel e os equipamentos odontológicos. Os estragos, que beiram prejuízo de R$ 10 mil, foram feitos em menos de uma semana da conclusão da reforma do consultório, situado próximo à praça dos Bandeirantes, também conhecida como "Praça do Barco", e que segundo a dentista abriga desocupados. Para ela, a segurança naquela região só poderá melhorar com a revitalização do logradouro público, que por manter árvores centenárias, tem iluminação precária. Agora, a dúvida maior é se os autores tinham intenção de furtar, uma vez que nada foi levado, ou agiram assim por ter "virado moda" incendiar consultórios odontológicos, bem como seus profissionais.
De acordo com a dentista, que terminou a reforma da sua clínica na sexta-feira e retornou ao trabalho na terça-feira, foi uma decepção ver o que havia acontecido: "cheguei por volta das 7h10, e ao ver a água pensei que algum cano tinha estourado. Porém, somente depois, já dentro de uma das salas é que me dei conta do que havia acontecido", descreve. Entretanto, ao receber a reportagem, ela já estava mais calma, pois, "depois de tanto chorar, tenho que agradecer a Deus pelos danos serem apenas materiais".
Uma abertura no teto de uma das salas de atendimento mostra por onde ocorreu a invasão, tendo os estragos atingido desde as paredes e teto, como também a mobília e sobretudo equipamentos odontológicos, como por exemplo o autoclave, usado para esterilização dos instrumentos, que custa R$ 3 mil em média. Da obra concluída sexta-feira e que se perdeu com o fogo, a dentista cita toda a parte de gesso e a instalação elétrica, que precisará ser refeita, entre outros danos.
Para a dentista, que atua no mesmo endereço há 19 anos, a situação de insegurança poderia ser resolvida com a revitalização da praça, pois entende que com o local mais iluminado os desocupados se afastariam. Ela observa que eles chegam a constranger pacientes pedindo dinheiro, não descartando também que ali ocorra até mesmo prostituição e tráfico de drogas. O constrangimento causado por parte de alguns usuários da praça não atinge apenas as pessoas que passam pelo local, como também os moradores da redondeza. Ela cita inclusive uma senhora de 95 anos que, por medo, acaba sendo obrigada até mesmo a fazer carne acebolada, atendendo assim aos pedidos daqueles que ficam por ali o tempo todo.
Durante a presença da reportagem no consultório (de lá se tem visão da praça), foram observadas cenas de rapazes trocando de roupas guardadas numa mochila, sugerindo assim que residam na referida praça. Outros dormiam tranquilamente em seus bancos. Outra situação que também chamou a atenção foi a de uma mulher entregando algo para dois rapazes, que depois se afastaram. Seria caso de tráfico de drogas?Somente uma revista policial para responder.
A dentista reconhece entretanto que existe policiamento preventivo por parte da Polícia Militar e também da Guarda Civil Municipal, mas que pouco pode ser feito se nada de ilícito for encontrado em poder das pessoas que ficam por ali o dia todo. Além da revitalização da praça, a dentista também solicita à Prefeitura, por meio do setor de fiscalização, que verifique uma casa situada nas esquinas das ruas Salvador Corrêa e Humaitá. O imóvel, que está com placa de aluguel, vem servindo de abrigo para moradores de ruas. E a situação não é recente, tanto que há meses a casa foi tema do "Cruzeiro de Olho" pelo mesmo motivo. Ação por parte da Secretaria da Cidadania, em fazer levantamento dos moradores de rua e encaminhá-los para atendimento, é também aguardada pela dentista.
Na normalidade
Para a Polícia Militar, naquele entorno da praça dos Bandeirantes, a situação seria de tranquilidade, sem registros de roubos e furtos, sejam de estabelecimentos, transeuntes ou de carros. A informação é do tenente Divaldil de Souza Rocha Segundo, oficial de Relações Públicas do 7º Batalhão da Polícia Militar do Interior (7º BPM/I).
De acordo com o oficial, além do policiamento ostensivo de rotina, aquela região também recebe o reforço da atividade delegada.
A Prefeitura foi questionada sobre as medidas a serem tomadas, mas até o momento do fechamento da matéria, as respostas ainda não haviam chegado.
Dentistas queimados vivos chocam opinião pública
No primeiro semestre deste ano, duas ocorrências de dentistas queimados vivos durante roubos em seus consultórios preocuparam a classe de profissionais, bem como chocaram a opinião pública. O primeiro caso foi o da dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza, 47 anos, ocorrido em 25 de abril em São Bernardo do Campo. O consultório foi invadido por quatro rapazes, e irritados por ela ter apenas R$ 30,00 na conta bancária, a incendiaram viva. Quatro pessoas suspeitas foram detidas pela polícia, entre eles um adolescente de 17 anos que assumiu a autoria do homicídio por meio cruel.
A segunda vítima em situação semelhante foi o dentista Alexandre Peçanha Gaddy, 41 anos, queimado durante um assalto em seu consultório no dia 27 de maio, em São José dos Campos (SP). Com queimaduras de terceiro grau em mais de 50% do corpo, ele resistiu até 3 de junho, quando faleceu.
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