02/12/2016

Pablo Ortellado:os dilemas do MBL

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22 h ·
Pablo Ortellado Para entender os próximos desdobramentos da conjuntura é fundamental acompanhar a evolução do MBL ator chave em todo processo. O grupo que lidera hoje o MBL começou como uma ala liberal do movimento estudantil (que fez uma gestão de direita do centro acadêmico da Faculdade de Direito da USP) e depois se lançou numa audaciosa primeira aventura eleitoral, na campanha do Paulo Batista (aquele, do "raio privatizador"). Neste momento, o que viria a ser o núcleo do atual MBL era obcecado em aprender as técnicas de propaganda da esquerda, muito influenciados pela tese da hegemonia gramsciana da esquerda (o texto chave para essa interpretação era -- e ainda é -- o livro do Olavo de Carvalho). Depois de 2013, o grupo percebe uma conjuntura favorável e começa a apostar no discurso de mobilização, sempre voltado para a juventude, tentando tornar o liberalismo "sexy" (a "direita transante" do Pedro D'Eyrot é um efeito meio tardio dessa aposta que teve como antecessor a "Banda Loka Liberal"). Curiosamente, a aposta do MBL na juventude sempre foi mal sucedida e embora sua liderança seja jovem, sua base está mais tipicamente na casa dos 40 anos. No período de 2014-2015, o MBL tentou se afastar das questões morais como aborto e drogas tentando se concentrar no discurso econômico liberal. Sua única concessão era o apelo ao sentimento moral anticorrupção que sempre exploraram com destreza para construir sua base. Aos poucos, no entanto, o MBL foi se acomodando a conjuntura das guerras culturais e incorporando as questões morais, numa chave de negação dos novos movimentos negro, GLBTT e feminista e de afirmação do punitivismo. Fernando Holiday apareceu então como aposta política já não apenas ultra-liberal, como era no começo da sua carreira como youtuber, mas também contra a "vitimização" de gays e negros, curtocircuitando o conceito de "lugar de fala". Em seguida, o MBL respondeu as ocupações autônomas dos secundaristas e depois dos universitários com uma mobilização miliciana que apelava para o sentimento ultraconservador de agredir "os vagabundos e baderneiros do PT". Essas últimas movimentações aproximaram dois grupos originalmente diferentes do polo antipetista: o conservador e o liberal. No entanto, o pragmatismo do MBL, que tem um projeto de poder bem definido, fez com que se aproximasse demais do PMDB, primeiro, por meio de Eduardo Cunha, para viabilizar o impeachment; em seguida, com o intuito de sustentar o governo Temer que estava promovendo uma ambiciosa agenda de reformas liberais. Essa última movimentação, no entanto, está colocando o MBL numa difícil encruzilhada. Com a anistia ao caixa dois e a desconfiguração das dez medidas de combate a corrupção, uma parte importante do movimento anticorrupção -- o Vem pra Rua e o Nas Ruas -- rompeu com o governo Temer e o PMDB e implicitamente acusou o MBL de governismo e complacência com a corrupção. Um pouco antes, os grupos que defendiam a intervenção militar e que tinham ocupado o Congresso também tinham acusado o MBL de colaborar com os corruptos. A resposta do MBL foi se retirar do ato do próximo dia 4 e acusar os demais grupos de se aliarem a "extrema-esquerda", enquanto reafirmava retoricamente seu compromisso com o fim do caixa dois e apresentava o recuo de Temer, Maia e Renan como uma vitória da sua abordagem pragmática. Resta saber em que medida uma base com disposição tão moralista e tão mobilizada pelas guerras culturais vai reagir a tamanho pragmatismo.

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