Pablo Ortellado
Para
entender os próximos desdobramentos da conjuntura é fundamental
acompanhar a evolução do MBL ator chave em todo processo. O grupo que
lidera hoje o MBL com
eçou como uma ala
liberal do movimento estudantil (que fez uma gestão de direita do centro
acadêmico da Faculdade de Direito da USP) e depois se lançou numa
audaciosa primeira aventura eleitoral, na campanha do Paulo Batista
(aquele, do "raio privatizador"). Neste momento, o que viria a ser o
núcleo do atual MBL era obcecado em aprender as técnicas de propaganda
da esquerda, muito influenciados pela tese da hegemonia gramsciana da
esquerda (o texto chave para essa interpretação era -- e ainda é -- o
livro do Olavo de Carvalho). Depois de 2013, o grupo percebe uma
conjuntura favorável e começa a apostar no discurso de mobilização,
sempre voltado para a juventude, tentando tornar o liberalismo "sexy" (a
"direita transante" do Pedro D'Eyrot é um efeito meio tardio dessa
aposta que teve como antecessor a "Banda Loka Liberal"). Curiosamente, a
aposta do MBL na juventude sempre foi mal sucedida e embora sua
liderança seja jovem, sua base está mais tipicamente na casa dos 40
anos. No período de 2014-2015, o MBL tentou se afastar das questões
morais como aborto e drogas tentando se concentrar no discurso econômico
liberal. Sua única concessão era o apelo ao sentimento moral
anticorrupção que sempre exploraram com destreza para construir sua
base. Aos poucos, no entanto, o MBL foi se acomodando a conjuntura das
guerras culturais e incorporando as questões morais, numa chave de
negação dos novos movimentos negro, GLBTT e feminista e de afirmação do
punitivismo. Fernando Holiday apareceu então como aposta política já não
apenas ultra-liberal, como era no começo da sua carreira como youtuber,
mas também contra a "vitimização" de gays e negros, curtocircuitando o
conceito de "lugar de fala". Em seguida, o MBL respondeu as ocupações
autônomas dos secundaristas e depois dos universitários com uma
mobilização miliciana que apelava para o sentimento ultraconservador de
agredir "os vagabundos e baderneiros do PT". Essas últimas movimentações
aproximaram dois grupos originalmente diferentes do polo antipetista: o
conservador e o liberal. No entanto, o pragmatismo do MBL, que tem um
projeto de poder bem definido, fez com que se aproximasse demais do
PMDB, primeiro, por meio de Eduardo Cunha, para viabilizar o
impeachment; em seguida, com o intuito de sustentar o governo Temer que
estava promovendo uma ambiciosa agenda de reformas liberais. Essa última
movimentação, no entanto, está colocando o MBL numa difícil
encruzilhada. Com a anistia ao caixa dois e a desconfiguração das dez
medidas de combate a corrupção, uma parte importante do movimento
anticorrupção -- o Vem pra Rua e o Nas Ruas -- rompeu com o governo
Temer e o PMDB e implicitamente acusou o MBL de governismo e
complacência com a corrupção. Um pouco antes, os grupos que defendiam a
intervenção militar e que tinham ocupado o Congresso também tinham
acusado o MBL de colaborar com os corruptos. A resposta do MBL foi se
retirar do ato do próximo dia 4 e acusar os demais grupos de se aliarem a
"extrema-esquerda", enquanto reafirmava retoricamente seu compromisso
com o fim do caixa dois e apresentava o recuo de Temer, Maia e Renan
como uma vitória da sua abordagem pragmática. Resta saber em que medida
uma base com disposição tão moralista e tão mobilizada pelas guerras
culturais vai reagir a tamanho pragmatismo.
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