Bancada tucana na Câmara racha após decisão de cúpula do PSDB em apoiar Temer


Reunião do grupo descontente com apoio ao presidente pode ter desdobramentos contra o governo

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O senador Tasso Jereissati, os governadores Geraldo Alckmin (SP), Marconi Perilo (GO), o ministro Bruno Araújo e o Prefeito João Dória (SP) durante reunião do partido em Brasília para decisão sobre permanência e apoio ao governo Temer - Andre Coelho / Agência O Globo
RIO - A decisão do PSDB de manter o apoio ao governo de Michel Temer mesmo depois das denúncias de corrupção com a delação da JBS deve manter os ânimos exaltados na bancada tucana da Câmara. Até então, o partido estava em cima do muro, sem saber se ficava ou não ao lado do presidente. Agora, o sentimento dos deputados é que a deliberação não foi democrática e vai evidenciar o racha da legenda. Essa é a avaliação de Daniel Coelho (PSDB-PE), um dos expoentes da ala jovem — chamada de "cabeças pretas" —, que encabeça a resistência a Temer.
— Não ficou clara como a decisão foi tomada, não houve votação. Não foi nada boa a posição (do partido) da forma como ficou. Não só o partido está dividido, mas a bancada da Câmara vive um momento completamente diferente do partido — disse ao GLOBO nesta terça-feira.
Os deputados que vêm defendendo o desembarque do governo se reúnem nesta terça para avaliar que medidas devem tomar a partir de agora. Parte deles já está determinada a votar a favor da futura denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer, que deve ocorrer nas próximas semanas.

— A bancada não quer ficar no governo. Quem vota somos nós, não são os governadores e prefeitos que têm voto (na Câmara). A gente vai tentar agir de forma articulada. A ideia é agirmos em bloco, independente da denúncia (contra Temer) — disse Coelho pouco antes da reunião com os insatisfeitos.
Segundo ele, a decisão deixou os parlamentares ainda mais descontentes porque não houve deliberação democrática por voto na Comissão Executiva do partido.
— Nosso sentimento é que foi uma decisão de cúpula, sem democracia — criticou.
Coelho faz parte de um grupo no partido, que não está restrito a ala jovem, que defende o apoio às reformas da Previdência e Trabalhista, mas sem manter cargos e apoio incondicional ao governo. Desde que a veio à tona a delação dos executivos da JBS eles articulam o desembarque do governo peemedebista.
Na semana passada, pouco antes da conclusão do julgamento do Tribunal Superiror Eleitoral (TSE) que decidiu absolver a chapa Dilma-Temer da acusação, feita pelo PSDB, de abuso de poder econômico nas eleições de 2014, esse grupo acreditava que os tucanos não manteriam o apoio ao governo.
— A partir de agora, já que o partido não vai deliberar, vai ficar evidente que há uma divisão — disse Coelho.
Para ele, o presidente interino da legenda, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), não ficou confortável com o caminho adotado pela cúpula tucana.
— Acho que Tasso ficou contrariado, aparentou isso. Alguém que queria ficar (no governo) deve ter pressionado ele e mudou a linha — argumentou.
Coelho evitou ligar a decisão do partido à uma suposta pressão do PMDB sobre os tucanos para cassar o mandato do presidente afastado da legenda, senador Aécio Neves (PSDGB-MG), no Conselho de Ètica do Senado.
Aécio foi afastado do mandato pelo Supremo Tribunal Federal (STF) após ser alvo da delação dos executivos

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