Embora o IPCA acumulado em 12 meses tenha ficado em
2,5%, serviços de saúde e educação subiram 5,2% e 7,5% no mesmo período
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Márcia De Chiara, O Estado de S.Paulo
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Setembro 2017 | 05h00
O brasileiro tem
acompanhado mês a mês, no último ano, a queda da inflação. O preço dos
alimentos já sobe menos, o estacionamento não aumenta como antes, mas dois
itens insistem em não dar trégua: os serviços de educação e saúde continuam
sendo reajustados acima do índice geral de preços. Entre as explicações para
essa resistência está no fato de que o consumidor, nesses casos, não abre mão
da qualidade e da confiança dos serviços privados. Os preços, desse jeito, não
cedem.
Em agosto, a inflação
oficial acumulada em 12 meses, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA), ficou em 2,5%. Foi a menor marca em mais de 18 anos. Enquanto
isso, os gastos com serviços de educação subiram o triplo (7,5%). No mesmo
período, os de saúde subiram o dobro (5,2%).
Os cálculos da LCA
Consultores não consideram os planos de saúde, cujos preços são monitorados
pelo governo. Neste ano, a Agência Nacional de Saúde (ANS) autorizou um aumento
máximo de 13,55% para os planos, praticamente o mesmo reajuste do ano passado.
Cleci não reajustou suas aulas de pilates, mas paga
mais por escola e plano de saúde Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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A fisioterapeuta
Cleci Rojanski conhece esses porcentuais na ponta do lápis. Dona de um estúdio
de pilates, ela é uma prestadora de serviços que não consegue aumentar as
mensalidades desde o ano passado. “Perdi clientela do ano passado para cá. Se
eu tivesse reajustado, seria bem pior”, diz.
Na outra ponta, no
entanto, os preços subiram. O plano de saúde da família teve alta de quase 15%.
A mensalidade da escola do filho de 12 anos foi reajustada em 10%, para R$
1.315. “Pensamos em mudar para um plano de saúde mais barato, mas temos toda
uma preocupação com isso”, diz. Ficar sem plano está fora de cogitação. Para
equilibrar o orçamento da família, Cleci reduziu viagens e jantares em
restaurantes. “No dia a dia, a gente não percebe a queda da inflação.”
A analista de
exportação Valéria Brauer suspendeu as aulas de natação do filho, cortou a
terapia e renegociou o seguro do carro. Ela decidiu fazer essa ginástica
financeira para conseguir manter o plano de saúde e o filho na escola
particular. “Tentei preservar aquilo que é primordial: saúde e educação.” O
convênio médico da analista foi reajustado em 25,8% em julho e o plano do filho
subiu 13% neste ano. A mensalidade escolar teve alta de 10%.
Quando se trata de
educação e saúde os preços tem subido, sistematicamente, acima da inflação
geral ao longo dos anos. Na última década, enquanto o IPCA acumulado subiu
80,5%, os preços dos serviços de saúde cresceram 113,8% e os de educação,
110,7%.
O economista-chefe da
MB Associados, Sérgio Vale, diz que as relações de confiança construídas ao
longo do tempo entre clientes e prestadores de serviços de saúde, como médicos
e dentistas acaba dificultando a troca por opções mais baratas. “A relação de
confiança acaba fazendo com que possíveis abusos possam acontecer.”
O economista da LCA
Consultores, Fabio Romão, diz que existe alguma resistência nos preços dos serviços
de educação e saúde, mas pondera que a trajetória é de desaceleração.
“Resistência existe, mas não é absoluta.” Segundo ele, no caso da educação, as
famílias pensam duas vezes antes de mudar as crianças de escola. “Há todo um
ciclo social que a criança desenvolveu na escola, a proximidade de casa.” Esses
fatores, segundo ele, chancelam os reajustes e dão resistência à queda de
preços.
O presidente do
sindicato das escolas particulares de São Paulo, Benjamim Ribeiro, é mais
direto: “Nosso concorrente, a escola pública, é muito ruim, por isso as
famílias preferem manter os filhos na escola particular”.
3 PERGUNTAS PARA...
Fábio Romão
Economista da
LCA Consultores
Por que a inflação de
serviços demora mais para cair se comparada com o índice geral de inflação?
Inflação de serviços
é um balaio, tem muitas coisas lá. Tem alguns itens que estão desacelerando,
mas em outro ritmo. É o caso de saúde e educação. Dificilmente esses dois
serviços, já excluindo os preços dos planos de saúde – que são monitorados pelo
governo – recuarão para um patamar de 5% esperado para os serviços como um todo
neste ano. O que explica essa resistência é o vínculo com a escola e com o
médico que não dá para substituir.
A expectativa de alta
de 5% para inflação de serviços em geral em 2017 não é muito elevada, diante de
uma inflação geral esperada em torno de 3%?
A alta de 5% para
inflação de serviços em 2017 é modesta se compararmos com o histórico. Em 2011,
a inflação de serviços como um todo chegou a 9,7%. A despeito do PIB (Produto
Interno Bruto) ter caído em 2015, a inflação de serviços aumentou 8,2%, ante
8,4% em 2014. Foi uma diferença muito pequena. Os serviços resistiram porque
houve aumento de custos, como energia, água e as matérias-primas, como os
alimentos. Isso acabou atrapalhando o arrefecimento.
E a recessão não
afeta a inflação de serviços?
De 2015 para 2016, com a economia em recessão, a
inflação de serviços perdeu 1,7 ponto porcentual e neste ano vai perder mais
1,5 ponto. Isso ocorreu por causa da desaceleração da economia e porque o
indexador, dos reajustes, como IGP-M, perdeu força.
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