Segundo a Receita Federal, foram regularizados até
abril deste ano R$ 152,7 bi depositados no exterior, mas R$ 126,1 bi permanecem
fora do País
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Jamil Chade, O Estado de S.Paulo
18
Setembro 2017 | 09h27
GENEBRA - Os
programas de anistia fiscal na América Latina, que no Brasil foi chamada de Lei
de Repatriação, não gerou um fluxo significativo de saída de dinheiro da Suíça.
Quem garante isso é o CEO da Associação dos Banqueiros Suíços, Claude Alain
Margelisch. Em entrevista ao Estado, o executivo insistiu que, na maioria dos
casos, o dinheiro foi regularizado. Mas não deixou a Suíça.
Segundo a Receita
Federal, por conta do programa de repatriação, foram regularizados até abril
deste ano R$ 152,7 bilhões depositados no exterior. Mas permanecem fora do
Brasil R$ 126,1 bilhões. O Banco Central registrou a entrada no País de R$ 26,6
bilhões. Desses, R$ 3,5 bilhões estavam na Suíça.
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Segundo a Receita Federal, foram regularizados até
abril deste ano R$ 152,7 bi depositados no exterior, mas R$ 126,1 bi permanecem
fora do País Foto: PAULO LIEBERT | ESTADÃO
Margelisch, porém,
insiste que a maior parte do dinheiro ficou nos bancos do país, que exigiram
uma regularização de seus clientes. Mas, em troca, ofereceram serviços e ajuda
para completar o processo de regularização. Além do Brasil, o México também
promoveu um plano de anistia fiscal.
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"Não vimos uma
saída de dinheiro", garantiu o representante dos banqueiros. "Na
América Latina, a maioria dos clientes optou por ficar. Isso também foi um
serviço oferecido pelos bancos suíços que acompanharam seus clientes e
mostraram que tinham uma oportunidade de regularizar seus ativos", explicou.
"Os bancos
recomendaram aos seus clientes: pague a multa, regularize a situação. Mas
mantenha o dinheiro na Suíça, aproveitando-se de nossa expertise. Vimos isso
não apenas com América Latina, mas com programas similares no passado da
França, Alemanha e Itália. A maioria optou por continuar na Suíça, pois querem
os serviços", justificou.
No caso específico do
Brasil, Margelisch apontou que "a maioria optou por regularizar sua
situação". "A lógica era de que poderiam aproveitar a ocasião para
fazer isso, estar limpo em seu país", disse.
Ele também garante
que, ao contrário de anos anteriores, clientes não optaram por retirar o
dinheiro da Suíça e buscar outros centros financeiros mais opacos. "No
passado, vimos que certos clientes tentaram escapar para outros países. Mas,
dois ou três anos depois, esses países também foram obrigados a fazer troca de
informações fiscais", disse.
Nem todos os bancos
concordam com a constatação da entidade de que o dinheiro sul-americano não
tenha saído. O Credit Suisse, um dos maiores bancos do mundo, admitiu em seu
informe anual que programas de regularização promovidos na América Latina em
2016 contribuíram para uma fuga de capital do banco.
A fuga teria chegado
a US$ 1,5 bilhão apenas de clientes latino-americanos. Em seu informe, o banco
não cita o nome de países.
O Credit Suisse, que
também vem insistindo em ter apenas clientes com recursos regularizados, é a
segunda instituição financeira suíça a apontar para o mesmo fenômeno.
O banco Julius Baer indicou que foi vítima de uma
queda de ativos sob sua administração em relação aos clientes das Américas.
Entre dezembro de 2015 e dezembro de 2016, cerca de US$ 227 milhões de
clientes do continente americano deixaram o banco. "As incertezas
políticas em diversos países na região, assim como programas voluntários de
repatriação, continuam a pesar, em especial no fluxo de ativos", indicou.
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