24 de setembro de 2017 às 10h01
Montagem com fotos da Agência Brasil
por Conceição Lemes
Nesta segunda-feira (25/09), acontece em São Paulo o lançamento internacional do Fórum Alternativo Mundial da Água – FAMA2018.
Participam as 33 entidades que já compõem a coordenação nacional (veja lista ao final), além de organizações de Argentina, Uruguai, Chile, Equador, Colômbia, Bolívia, Paraguai, Peru, Costa Rica, Estados Unidos, Canadá, Espanha, Itália e Palestina.
Contraponto fundamental à 8ª edição Fórum Mundial da Água (FMA), que será em Brasília, de 18 a 23 de março de 2018.
O nome dá a impressão de representar as necessidades da maioria dos povos do planeta em relação ao acesso à água.
Só que não. Na prática, o objetivo do FMA é oposto: privatizar as fontes naturais e os serviços públicos de água.
Leia-se: água é mera mercadoria e não um direito, como defende o FAMA2018.
“O FMA é simplesmente uma feira de negócios das grandes corporações do setor de água”, atenta Edson Aparecido da Silva, coordenador nacional do FAMA2018.
“A portas fechadas, com acesso privilegiado a decisões de governos, elas bloqueiam o avanço de políticas públicas globais que tentam resolver a crise de acesso à água”, denuncia.
Só que desta vez o “Fórum das corporações” não estará sozinho no palco.
De 17 a 19 de março de 2018, acontecerá também, em Brasília, o Fórum Alternativo Mundial da Água, que reunirá organizações e movimentos sociais do Brasil e exterior, que lutam em defesa da água como direito elementar à vida.
Detalhe: o FAMA nasceu no Brasil, em fevereiro de 2017.
Foi uma iniciativa de entidades que se aglutinam no Coletivo de Luta pela Água, entre as quais, Central Única dos Trabalhadores (CUT), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), Federação de Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) e Central de Movimentos Populares (CMP).
Para saber mais detalhes, o Viomundo entrevistou Edson Aparecido. Ele é especialista em questões de água e saneamento.
Viomundo — Afinal, o que pretende o FAMA?
Edson Aparecido — Bem, o Fórum Alternativo Mundial da Água é uma iniciativa de dezenas de entidades da sociedade civil e movimentos sociais do Brasil e do exterior, que entendem a água como direito elementar à vida e se posicionam contra a sua mercantilização.
Queremos unificar a luta contra a tentativa das grandes corporações de transformar este direito em recurso inalcançável para muitas populações, promovendo exclusão social, pobreza, doenças.
Viomundo — Mas o FAMA nasceu aqui?
Edson Aparecido — Sim, das discussões do Coletivo de Luta pela Água, surgido em São Paulo, em resposta à grave hídrica que a região metroplitana enfrentou em 2014, lembra-se?
Em fevereiro de 2017, o fundamos graças à articulação de movimentos e entidades envolvidos nas questões água e saneamento do Brasil. Felizmente, logo tomou dimensões internacionais. Tanto que entidades de vários países estarão presentes ao lançamento, nesta segunda-feira.
Viomundo — Qual o significado do dia 25?
Edson Aparecido — Daremos um passo efetivo em relação ao processo de articulação internacional, já que o lançamento terá a presença de representantes de organizações da América Latina, Europa, Canadá, Estados Unidos, Índia, África do Sul e Palestina.
Nesse dia, teremos duas palestras fudamentais para a compreensão do que está acontecendo. Uma é do professor Leo Heller (veja PS do Viomundo), relator especial da ONU pelo direito a água e saneamento. A outra, do também professor Rodrigo de Freitas Espinoza (veja PS do Viomundo), que falará sobre “A Construção Discursiva do Conselho Mundial da Água, entidade que organiza o 8º Fórum Mundial da Água.
Viomundo — Por que vocês denominam o Fórum Mundial da Água de “Fórum das corporações”?
Edson Aparecido — Porque o 8º FMA reúne grandes corporações da água e do saneamento mundiais, com forte viéis privado. Na prática, uma feira de negócios, para as multinacionais do setor de água e saneamento.
A portas fechadas, com acesso privilegiado a decisões de governos, elas bloqueiam o avanço de políticas públicas globais que tentam resolver a crise de acesso à água. Nessa medida, não o consideramos um espaço para tratar de uma questão crucial para toda a humanidade.
Viomundo — Segundo o manifesto do FAMA (na íntegra, ao final), nos últimos 15 anos, ocorreram, pelo menos, 180 casos de remunicipalização dos serviços de saneamento em 35 países, tanto do hemisfério Norte como do Sul. O documento menciona Atlanta e Indianápolis (EUA), Accra (Ghana), Berlim (Alemanha), Buenos Aires (Argentina), Budapest (Hungria), Kuala Lumpur (Malásia), La Paz (Bolívia), Maputo (Moçambique) e Paris (França). O que aconteceu para cidades voltassem atrás?
Edson Aparecido — Essa tendência remunicipalização/reestatização do saneamento no mundo começou no ano 2.000. Na época, só se conheciam três casos. Atualmente, já são 267. As razões são várias, entre as quais: tarifas abusivas; contratos descumpridos; desejo do poder público de recuperar o controle dos recursos locais, para proporcionar serviços acessíveis e melhorar a gestão ambinetal .
Viomundo — Mas, ao mesmo tempo, assistimos no Brasil ao movimento de privatização da água: Sabesp, as hidrelétricas que Michel Temer e quadrilha querem privatizar. Se isso se confirmar, as respectivas passarão a ser dos investidores.
Edson Aparecido — São situações diferentes.Uma coisa é a privatização dos serviços de saneamento, que pode se dar através de, por exemplo: concessão plena (água e esgoto) ou concessão parcial (só água ou só esgoto); parceria público-privada, muito em voga; locação — empresa privada constrói determinada obra, que depois é “alugada” pelo poder público até a amortização dos investimentos; terceirização de serviços ou venda de ações, como é o caso da Sabesp.
Já a privatização dos recursos hídricos pode se dar, por exemplo, através da compra de terras.
Estudo publicado no “Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States” estima que, por ano, cerca de meio trilhão de metros cúbicos de água potável compõe acordos de compra ou arrendamento de terras entre empresas e países. O estudo considerou centenas de acordos transnacionais assinados entre 2005 e 2009.
Esse mesmo estima também que até 90% do volume de água apropriada no mundo têm como finalidade a agricultura e a pecuária, além da produção de biocombustíveis e a especulação financeira.
Viomundo — Em termos de Brasil, em que pé está a privatização da água?
Edson Aparecido –– As empresas privadas atendem 316 municípios, ou seja, 5,6%. Seis companhias do segmento de saneamento concentram 95% dos negócios privados no país: OAS, GS Inima, Brookfield (ex-Odebrecht Ambiental), Águas do Brasil, Aegea e CAB Ambiental.
Viomundo — A água é o petróleo dos novos tempos?
Edson Aparecido — Com certeza, já é. Segundo a ONU, nas últimas décadas, o consumo de água cresceu duas vezes mais do que a população e a estimativa é que a demanda cresça ainda 55% até 2050.
Mantendo os atuais padrões de consumo, em 2030, o mundo enfrentará um déficit de 40% no abastecimento de água.Os dados estão no Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos 2015 – Água para um Mundo Sustentável.
Viomundo — A população tem consciência dessa nova tragédia que se avizinha?
Edson Aparecido – Não. Esse deveria ser um trabalho dos meios de comunicação de massa, escolas.
Porém,um quadro como esse só será revertido com mudanças do padrão de desenvolvimento capitalista que tem como principal orientação a busca incessante pelo lucro e o desprezo pelas reservas naturais e estratégicas para o desenvolvimento do planeta.
É preciso construirmos juntos o que já está sendo chamado de nova cultura pela água para a preservação do planeta.
A construção e a realização do FAMA2018, em Brasília, fazem parte deste esforço.
Viomundo — O que será debatido no FAMA2018?
Edson Aparecido — Os temas centrais serão o controle social das fontes e acesso democrático à agua, assim como a luta contra as privatizações de mananciais e barragens.
Também serão debatidos e defendidos os povos atingidos por barragens, serviços públicos de água e saneamento e as políticas públicas necessárias para o controle social do uso da água e preservação ambiental. É o único caminho para tentarmos garantir o ciclo natural da água em todo o planeta.
PS do Viomundo: Leo Heller atua principalmente nos temas de abastecimento de água, saúde ambiental e políticas públicas. É pesquisador do Centro de Pesquisa René Rachou, Fiocruz/Minas. Já foi professor titular do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no qual atua como professor voluntário. Desde 2014, é relator especial do Direito Humano à Água e ao Esgotamento Sanitário, das Nações Unidas.
Já Rodrigo de Freitas Espinoza, doutor em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A sua tese de doutoramento é justamente sobre o tema que abordará nesta segunda, ou seja, A Construção Discursiva do Conselho Mundial da Água.
Na segunda-feira passada (18/09), representantes do Fórum Alternativo Mundial da água, entre os quais Edson Aparecido da Silva (no topo, à direita), foram ao Instituto Lula convidar o ex-presidente para participar do FAMA2018, em Brasília. Para Lula, o tema deveria estar inserido até mesmo na política educacional: “O indivíduo precisa compreender o uso consciente da água desde criança”.
Na montagem, os dois palestrantes desta segunda-feira, 25, em São Paulo: o professor Leo Heller e o pesquisador Rodrigo de Freitas Espinoza. Mais abaixo, fragmento da exposição “Arpilleras: bordando a resistência”, com trabalhos de mulheres atingidas por barragens, que ocorrerá também no evento
“Água é um direito humano, não mercadoria”
Resoluções das Nações Unidas reconhecem que a água e o esgotamento sanitário são direitos fundamentais. Não há vida sem água e ela é bem comum que deve ser compartilhado entre toda a humanidade e os demais seres vivos.
A natureza se recria e a água é continuamente renovada em ciclos hidrológicos. Mas nosso planeta sofre uma intensa destruição pelas ações e atividades humanas.
O sistema econômico global é extremamente predatório, produzindo uma sinergia e cumulatividade de impactos ao meio ambiente, o que provoca alterações climáticas, poluição e a destruição dos ecossistemas essenciais para a renovação da água.
As iniciativas da sociedade brasileira têm sido incipientes como prática preventiva para proteger a água.
Continuam desguarnecidos os elementos vitais para manutenção dos ciclos naturais, como a proteção das florestas para a transposição continental da umidade (rios voadores), imprescindível para a regularidade das chuvas; a falta de gestão adequada do uso e ocupação do solo nas bacias hidrográficas visando proteger os mananciais (nascentes, rios, reservatórios); a manutenção e restauração da vegetação nativa; e o respeito às Áreas de Preservação Permanente e Unidades de Conservação.
O ritmo civilizatório é desumano: a má distribuição e a escassez são agravadas diante da apropriação da água para fins comerciais.
Grandes corporações promovem um processo de mercantilização da água nos moldes usuais do mercado global: lucrar e distribuir dividendos a um reduzido grupo de investidores.
Isso é inaceitável! Não se pode comprar chuva, não se pode comprar sol… É um contrassenso tornar a água mera mercadoria e isso levará o mundo a um futuro ainda mais injusto e perigoso.
É injusto porque representa o domínio de poucos sobre o direito de todos. A organização Oxfam denunciou, em 2016, que apenas 8 pessoas no mundo detêm a mesma riqueza que a metade do planeta, ou seja as 3,5 bilhões de pessoas mais pobres.
Essa desigualdade também está presente na posse da água. Corporações como Nestlé, Evian, Cola-Cola, Pepsi-Co, Suez e Veolia dominam fontes de água em todo o mundo e intervêm diretamente na soberania dos países que possuem essa riqueza.
Empresas transnacionais que usam água como base de produção exercem grande influência nas decisões sobre esse bem nos países em que atuam e na própria ONU.
Bancos de Wall Street (EUA) e de outros lugares do mundo, além de multibilionários, estão comprando terras onde há reservas de água em todo o planeta, demonstrando que existe grande interesse financeiro por essas áreas estratégicas. Com os processos de privatização, esses investimentos vêm sendo altamente lucrativos.
O capitalismo também leva à perda do controle social, democrático e comunitário sobre os recursos naturais, convertendo direitos em mercadorias e limitando o acesso dos povos aos bens e serviços necessários à sobrevivência.
A história tem demonstrado que a gestão ética não é uma virtude das corporações econômicas, que chegam ao extremo de estimular crises políticas e econômicas, a financiar golpes de Estado e a impor estados de exceção.
Há inúmeros registros de estratégias para privilegiar interesses econômicos, como fraudes em licitações, chantagem, suborno, cooptação, superfaturamento e corrupção.
Por outro lado, a história também tem revelado a luta dos povos diante das contradições e conflitos cada vez mais numerosos e intensos pelo uso da água, visando a construção de um modelo de desenvolvimento com sustentabilidade (ecológica, social, espacial, cultural, econômico-financeira etc.) para países e até continentes, como a América do Sul e a África.
A concentração em poucas mãos da terra rural e urbana; o uso inapropriado do solo e das águas por meio do desmatamento, impermeabilização do solo, lançamento de resíduos líquidos e sólidos; a construção excessiva e sem o devido controle de projetos de infraestrutura hídrica, a exemplo de barragens; além da contaminação do solo, do ar e da água pelo uso de agrotóxicos, são a expressão de um modelo predador, que espolia não só o trabalho, mas também o patrimônio ambiental e sociocultural. Há destruição e exclusão, enquanto deveria haver sustentabilidade e proteção do meio ambiente e da vida, para as atuais e futuras gerações.
Se historicamente este tem sido um processo injusto, agora se tornou perigoso.
O Papa Francisco, por meio da encíclica Laudato Si, afirma:
“É previsível que, frente ao esgotamento de alguns recursos, seja criado gradualmente um cenário favorável para novas guerras, disfarçadas de reivindicações nobres(…). Enquanto a qualidade da água disponível está em constante deterioração, há uma tendência crescente em alguns lugares de privatizar este recurso limitado (…). Espera-se que o controle da água por grandes empresas globais torne-se uma das principais fontes de conflito neste século”.
Diante disso, todos devem reagir e defender-se de um modelo econômico que considera água e natureza como mero ativo de mercado, impondo um modelo ineficaz para prover acesso à água e ao saneamento para o conjunto da humanidade.
Gerir bens comuns não é adequado ao perfil de empresas que visam lucro, portanto jamais será a base de uma economia sustentável, solidária e democrática, pois ameaça as espécies vivas, destrói os ecossistemas da Terra e a convivência pacífica entre os seres humanos.
A água como bem comum
A água é um bem comum. Isso nos leva a compreender também que sua gestão precisa considerar os interesses das comunidades locais, em especial os excluídos ou silenciados frente à forte voz do mercado, por meio de um processo democrático de debate e decisão sobre projetos que interferem no uso da água e da terra, especialmente no caso de empreendimentos de infraestrutura hídrica.
É preciso construir uma nova cultura da água, sustentada em valores éticos, ecológicos e culturais que garantam a inclusão e a justiça socioambiental, prezando pela transparência e participação popular ampla e representativa dos diferentes setores da sociedade.
É fundamental a compreensão de que a água é um bem comum que não pode ser gerido por interesses privados e que, mesmo uma gestão do Estado, que em teoria deveria prezar pelo bem comum, sem controle social e participação democrática, poderá priorizar o atendimento aos grandes interesses privados, como ocorre em casos de concessões de uso de fontes para exploração mineral, parcerias público-privadas dos serviços de saneamento público, entre outros.
O descaso que mata
A água contaminada mata mais de meio milhão de pessoas por ano e contribui para a disseminação de enfermidades. Em 80% dos países, o investimento para o abastecimento de água, o esgotamento sanitário e a higiene são insuficientes para alcançar as metas de salubridade pretendidas.
Segundo a ONU, cerca de 663 milhões de pessoas no mundo não têm acesso a fontes adequadas de água, 946 milhões praticam a defecação ao ar livre e a “água poluída é mortal para crianças severamente desnutridas, assim como falta de comida”.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) alerta que mais de 800 crianças, com menos de 5 anos, morrem todos os dias de diarreia associada à falta de água e de higiene. Aproximadamente 27 milhões de pessoas não têm acesso à água potável em países que enfrentam ou estão em risco de fome – como Iêmen, Nigéria, Somália e Sudão do Sul.
Gênero e acesso à água
A desigualdade de gênero também sofre o impacto da falta de acesso à água. A escassez e má distribuição levam mulheres a percorrerem longas e íngremes distâncias para obter água.
A UNICEF alerta que, globalmente, mulheres e meninas gastam 200 milhões de horas coletando água todos os dias.
Sacrificam-se pelo bem dos seus, pela natureza ao redor, pela agricultura familiar e pelos animais que criam. E a feminização da pobreza é crescente. Conforme dados da ONU, 70% das pessoas que vivem em situação de pobreza no mundo são mulheres, atingindo em especial as negras, latinas, indígenas e imigrantes.
As mulheres são as principais responsáveis pelos cuidados familiares e da casa, portanto possuem necessidade premente de acesso à água potável e ao esgotamento sanitário, o que é impedido pela lógica da mercantilização e pela omissão dos poderes públicos.
A gestão da água no Brasil
O esgotamento sanitário guarda profunda relação com a saúde pública, sobretudo com as doenças de veiculação hídrica. É fato que quanto mais se investe, menos se onera o sistema de saúde, promovendo a saúde coletiva.
No entanto, o relatório “Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto” de 2015, elaborado pelo Ministério das Cidades, registra que, no Brasil, os níveis para atendimento de água por meio da rede pública eram de 83,3% e os níveis de coleta de esgoto total de 50,3%. Apenas 42,7% do total de esgoto gerado era, naquele ano, efetivamente tratado.
As periferias, as áreas de ocupação irregular, os quilombos, as aldeias indígenas e as comunidades tradicionais concentram os excluídos do acesso ao saneamento básico no País.
No Brasil, as companhias estaduais e as autarquias municipais detêm notória expertise sobre o tema de saneamento básico, especialmente na água e no esgotamento sanitário.
Mas a “terceirização” dos serviços, em especial nas atividades de operação e manutenção desses sistemas, apresenta resultados com baixa qualidade, afetando funcionários com a alta rotatividade e a redução ou perdas dos benefícios previstos na legislação trabalhista. Além disso, verificam-se os problemas comuns encontrados na gestão privada da água, como a falta de investimento em infraestrutura, o aumento de tarifas e dos danos ambientais.
A universalização do acesso com qualidade e integralidade só será possível com o fortalecimento do papel do Estado, com investimentos públicos suficientes e com transparência e controle social.
A experiência internacional tem revelado que a matriz pública da prestação dos serviços é mais adequada. A onda de privatização dos anos 1990-2000, estimulada pelas instituições financeiras internacionais e por gigantes operadoras do hidronegócio, que atingiu algumas cidades, principalmente da Europa, agora vem sendo revertida pela retomada dos serviços pelas municipalidades.
Nos últimos 15 anos, há notícia de, pelo menos, 180 casos de remunicipalização dos serviços de saneamento em 35 países, tanto do hemisfério Norte como do Sul.
Dos 180 casos, 136 ocorreram em cidades como, Atlanta e Indianápolis (EUA), Accra (Ghana), Berlim (Alemanha), Buenos Aires (Argentina), Budapest (Hungria), Kuala Lumpur (Malásia), La Paz (Bolívia), Maputo (Moçambique) e Paris (França).
A desmercantilização dos serviços públicos de saneamento, especialmente dos que envolvem água e esgotamento sanitário, é uma tarefa para a geração atual, especialmente em países aonde persiste a dominação colonialista como o Brasil, que conviveu com a espoliação de seu patrimônio natural durante séculos, e onde o aumento de passivos ambientais e a falta de investimento para sustentabilidade e segurança hídrica são históricos.
Esse cenário aponta, no médio prazo, para a impossibilidade de correção dos efeitos nocivos provocados pelo modelo atual, o que poderá condenar a sociedade a um futuro inseguro.
São objetivos principais do FAMA:
1. Ser um evento democrático, transparente, participativo, descentralizado e acessível, cuja realização ocorrerá simultaneamente e em contestação ao Fórum Mundial da Água. Terá a função de discutir problemas relacionados à água e ao saneamento, como direito fundamental, nas suas mais variadas interfaces, em busca de soluções que representem sustentabilidade e segurança hídrica para os seres humanos e a manutenção da vida na Terra.
2. Sensibilizar e mobilizar a população sobre o tema e a problemática da água e do saneamento, empreendendo amplo debate público em todo o País por meio de seminários, aulas públicas, oficinas, atividades culturais, atos ecumênicos etc.
3. Desenvolver um processo de sensibilização/mobilização que deverá servir à construção e realização do FAMA, visando ainda colocar o debate de forma permanente na agenda da sociedade em nível mundial.
4. Denunciar a ilegitimidade do 8º FMA e responsabilizar governos pelo uso de recursos públicos na promoção de interesses privados.
5. Propor e cobrar ações para os governos, visando políticas públicas de pleno acesso à água e ao saneamento, como direito fundamental e com amplo reconhecimento das Nações Unidas.
6. Reforçar a luta contra a mercantilização da Água.
7. Utilizar o lema “ÁGUA É DIREITO E NÃO MERCADORIA”, visando popularizar o tema, intensificar ações e unificar os esforços de cidadãos, coletivos e entidades que atuam nas mais variadas áreas ligadas à água, como abastecimento, saneamento básico, direitos humanos, atingidos por barragens, combate aos agrotóxicos, agricultura, meio ambiente, moradia etc.
8. Tornar estas ações um processo permanente, na perspectiva inicial de criação de espaços públicos de discussão, como comitês populares, para a construção do Fórum Alternativo Mundial da Água em todos os Estados brasileiros e, em segundo momento, promover a organização permanente onde os comitês populares formados para a construção do Fórum venham a se transformar em comitês de mobilização em defesa da água e do saneamento.
9. Viabilizar esses objetivos com ampla articulação e apoio da cidadania e de organizações, que possam integrar-se ao processo e colaborar com recursos financeiros, materiais e humanos.
Finalmente, o FAMA deve retratar e promover a tomada de consciência política da sociedade para que ela se apodere dos destinos do uso da água em cada lugar no mundo. Deve trazer à luz o que de melhor a humanidade pode almejar, dentro do exercício da ética em relação à vida e seus elementos essenciais de sustentação.
Neste sentido, chamamos os povos à preservação ética do ciclo da água para a proteção da vida e dos ecossistemas, em que todas as espécies crescem e se reproduzem. Água deve estar a serviço dos povos de forma soberana, com distribuição da riqueza e sob controle social legítimo, popular, democrático, comunitário, isento de conflitos de interesses econômicos, garantindo assim justiça e paz para a humanidade.
ENTIDADES QUE COMPÕEM A COORDENAÇÃO NACIONAL DO FAMA2018
Articulação Semiárido Brasileiro ASA
Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento Assemae
Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento Assemae
Cáritas
Central de Movimentos Populares CMP
Central Sindical das Américas CSA
Comissão Pastoral da Terra CPT
Confederação Nacional das Associações de Moradores Conam
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura CONTAG
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura CONTAG
Confederação Nacional dos Urbanitários CNU
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil CONIC
CUT Nacional
Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros Fisenge
Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal FENAE
Federação Nacional dos Urbanitário FNU
Federação Nacional dos Urbanitário FNU
Federação Única dos Petroleiros FUP
Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento FBOMS
Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental FNSA
Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental Proam
Internacional de Serviços Públicos ISP
Movimento dos Atingidos por Barragens MAB
Movimento dos Atingidos por Barragens MAB
Movimento dos Pequenos Agricultores MPA
Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra MST
Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto MTST
ONG Proscience
Rede Mulher e Mídia
Serviço Interfrancisacno de Justiça Paz e Ecologia Sinfrajupe
Sociedade Internacional de Epidemiologia Ambiental ISEE
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