Instituição é a primeira universidade brasileira a
homenagear seus estudantes vítimas da repressão; cerimônia ocorreu durante
apresentação do relatório da Comissão da Verdade da Pontifícia
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Marcelo Godoy, O Estado de S.Paulo
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Setembro 2017 | 05h00
A Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) diplomou nesta segunda-feira,
18, cinco alunos que estão entre os mortos e desaparecidos políticos
durante o regime militar (1964-1985). São dois antigos alunos da Faculdade de
Direito, um de Economia, uma de Filosofia e um de Ciências Sociais – quatro
deles ex-integrantes da Ação Libertadora Nacional (ALN) e um militante do PC do
B.
“É com muita
honra e orgulho que esta universidade presta essa homenagem aos alunos mortos e
desaparecidos na ditadura”, afirmou a reitora Maria Amália Pie Adib Andery.
A
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) apresentou seu relatório
da Comissão Nacional da Verdade Foto: Marcelo Godoy/Estadão
A PUC-SP é a primeira
universidade brasileira a fazer a diplomar seus alunos mortos e
desaparecidos. “A USP, por exemplo, que teve quase 40 ex-alunos mortos, não
fez”, afirmou o ex-presidente da Comissão Estadual da Verdade, Adriano
Diogo. A cerimônia ocorreu durante a apresentação do relatório da
Comissão da Verdade da PUC-SP.
“Foi uma ideia que
nasceu dentro da comissão e foi levada à comunidade acadêmica. A reitora a
levou ao Conselho Universitário, que a aprovou”, disse a professora
Heloísa de Faria Cruz, do departamento de história e integrante da comissão. “A
luta deles deve ser referência para o nosso presente.”
Os diplomas foram
entregues aos familiares dos antigos alunos pela reitora. “Somos extremamente
gratos pela atitude da PUC. Estamos escrevendo uma história que nos é
sonegada”, afirmou o jornalista Lino Brum Filho, irmão de Cilon Cunha Brum, que
estudou economia na PUC até 1971, quando passou a viver na clandestinidade.
Cilon acabou morto em 1974 no Araguaia, durante as operações das Forças Armadas
para eliminar a guerrilha do PC do B, e continua desaparecido. Outro desaparecido
político que foi simbolicamente diplomado pela PUC foi o militante da
ALN Luiz Almeida Araújo, desaparecido depois de ter sido sequestrado em
1971, em São Paulo, por homens do Exército e do Departamento de Ordem Política
e Social de São Paulo (Dops-SP).
Invasão. O
relatório da comissão da PUC acolheu as mesma recomendações feitas pelo
relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), encerrada em 2014. Também fez
recomendações para a universidade, como “reforçar o ensino de valores
democráticos para a cidadania nos currículos de licenciatura de professores”. A
divulgação do relatório ocorre na semana em que a PUC rememora o 40.º
aniversário da invasão da universidade pelos policiais civis do Dops sob o
mando do então secretário da Segurança Pública, Erasmo Dias, em 22 de
setembro de 1977. A ação terminou com cerca de 1,5 mil estudantes
detidos onde seria realizado o 3.º Encontro Nacional de Estudantes (ENE),
que buscava reorganizar a União Nacional dos Estudantes (UNE), entidade que havia
sido banida pelo regime militar.
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