PUC-SP diploma alunos mortos pela ditadura militar


Instituição é a primeira universidade brasileira a homenagear seus estudantes vítimas da repressão; cerimônia ocorreu durante apresentação do relatório da Comissão da Verdade da Pontifícia

·          
·          
Marcelo Godoy, O Estado de S.Paulo
19 Setembro 2017 | 05h00
A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) diplomou nesta segunda-feira, 18, cinco alunos que estão entre os mortos e desaparecidos políticos durante o regime militar (1964-1985). São dois antigos alunos da Faculdade de Direito, um de Economia, uma de Filosofia e um de Ciências Sociais – quatro deles ex-integrantes da Ação Libertadora Nacional (ALN) e um militante do PC do B.
“É com muita honra e orgulho que esta universidade presta essa homenagem aos alunos mortos e desaparecidos na ditadura”, afirmou a reitora Maria Amália Pie Adib Andery.
A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) apresentou seu relatório da Comissão Nacional da Verdade Foto: Marcelo Godoy/Estadão
A PUC-SP é a primeira universidade  brasileira a fazer a diplomar seus alunos mortos e desaparecidos. “A USP, por exemplo, que teve quase 40 ex-alunos mortos, não fez”, afirmou o ex-presidente da Comissão Estadual da Verdade, Adriano Diogo.  A cerimônia ocorreu durante a apresentação do relatório da Comissão da Verdade da PUC-SP.

Parte inferior do formulário
“Foi uma ideia que nasceu dentro da comissão e foi levada à comunidade acadêmica. A reitora a levou ao Conselho Universitário, que a aprovou”, disse a professora Heloísa de Faria Cruz, do departamento de história e integrante da comissão. “A luta deles deve ser referência para o nosso presente.”
Os diplomas foram entregues aos familiares dos antigos alunos pela reitora. “Somos extremamente gratos pela atitude da PUC. Estamos escrevendo uma história que nos é sonegada”, afirmou o jornalista Lino Brum Filho, irmão de Cilon Cunha Brum, que estudou economia na PUC até 1971, quando passou a viver na clandestinidade. Cilon acabou morto em 1974 no Araguaia, durante as operações das Forças Armadas para eliminar a guerrilha do PC do B, e continua desaparecido. Outro desaparecido político que foi simbolicamente diplomado pela PUC foi o militante da ALN Luiz Almeida Araújo, desaparecido depois de ter sido sequestrado em 1971, em São Paulo, por homens do Exército e do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (Dops-SP).

Invasão. O relatório da comissão da PUC acolheu as mesma recomendações feitas pelo relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), encerrada em 2014. Também fez recomendações para a universidade, como “reforçar o ensino de valores democráticos para a cidadania nos currículos de licenciatura de professores”. A divulgação do relatório ocorre na semana em que a PUC rememora o 40.º aniversário da invasão da universidade pelos policiais civis do Dops sob o mando do então secretário da Segurança Pública, Erasmo Dias, em  22 de setembro de 1977. A ação terminou com cerca de 1,5 mil estudantes detidos onde seria realizado o 3.º Encontro Nacional de Estudantes (ENE), que buscava reorganizar a União Nacional dos Estudantes (UNE), entidade que havia sido banida pelo regime militar.

Postar um comentário

0 Comentários