18/08/2020

"São 80 anos de lei não cumprida neste pais", diz médico especialista em aborto legal


Para o médico Jefferson Drezett Ferreira, que coordenou o serviço de atendimento a vítimas de violência sexual do hospital Pérola Byington, a opinião pública não deveria impedir o cumprimento da lei

(Foto: Reprodução YouTube)
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247 - Em entrevista ao BuzzFeed News, o médico Jefferson Drezett Ferreira, que coordenou por mais de 25 anos o serviço de atendimento a vítimas de violência sexual do hospital Pérola Byington, de São Paulo, afirma que os médicos não podem se render às críticas quando estão cumprindo seu papel e a lei. 

"São 80 anos que temos uma lei permitindo que a gente faça alguma coisa; e 80 anos depois um hospital vem nos dizer que não tem protocolo [para o aborto legal]? Ele teve 80 anos para se organizar. E é um hospital universitário, que ensina. Vai ensinar o quê? Ensinar a não cumprir a lei, a não cumprir seu dever?", disse ele se referindo ao caso da menina do Espírito Santo, de apenas 10 anos, que ficou grávida após ser violentada pelo tio.

A menina teve teve o aborto legal, determinado pela Justiça, negado pelo Hospital Universitário Cassiano Antonio de Morais (Hucam), de Vitória.

Segundo ele, se esse caso não tivesse tido a exposição que teve, "possivelmente não teria uma manifestação tão intensa como se teve, de gente querendo invadir o hospital, com xingamentos de toda natureza".

"Se esse caso tivesse tido o respeito e a privacidade que deveria ter, se o nome da menina fosse preservado, se quem a estivesse atendendo fosse preservado, isso não aconteceria. Nos tempos que a gente vive aqui no Brasil, de manifestação de ódio permanente, de ódio de todas as naturezas, é pedir que essas manifestações aconteçam. Faz parte do jogo democrático ter posições diferentes e que possam se expressar, mas não quer dizer que isso permite que a outra pessoa me ofenda, me ameace", salientou o médico.

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