30/03/2011

Quem organizou o Carnaval?


Por  Rodrigo Boccato

do jornal da estância

O HMS Beagle atravessou o Atlântico e atracou em Salvador, na Bahia de Todos os Santos, a 28 de Fevereiro de 1832 e Charles Darwin – naturalista britânico autor da Teoria da Evolução - não ficou indiferente à beleza dos seus arredores. A primeira impressão no seu diário de bordo exalta a cidade vista do seu porto:
“Seria difícil de imaginar, antes de contemplar a vista, qualquer coisa tão magnífica.”
Ele ficou até 18 de março e pôde registrar juntamente com Wickham e Sullivan – renomados militares da Marinha Britânica – o fenômeno social brasileiro mais admirado na Europa: o Carnaval – que, assim como neste ano aconteceu no início do mês.
(Da entrada de 4 de Março)
“Hoje é o primeiro dia de Carnaval, mas Wickham, Sullivan e eu não nos intimidamos e estávamos determinados a encarar os seus perigos. Estes perigos consistem principalmente em sermos impiedosamente fuzilados com bolas de cera cheias de água e molhados com esguichos de lata. Achamos muito difícil manter a nossa dignidade enquanto caminhávamos pelas ruas.”
Essa era a essência do carnaval brasileiro. A bagunça, a farra e a esbórnia mostravam ao mundo a brasilidade e alegria que nosso povo tem quando goza de liberdade. Assim é o Brasil: livre, criativo e independente, ou pelo menos era, ou pelo menos gostaria de ser.
De repente, num certo momento da história, alguém (acho que foi Mao Tse Tung, mas também podem ter sido Hitler, Mussolini, Roosvelt, Getúlio...) resolveu tornar o nosso carnaval num “desfile”, que lembra mais uma parada militar.
Em alguns lugares como no Rio e em SP, convenceram as “escolas” a se organizar, se uniformizar e se digladiar num evento em que eles percorrem uma avenida com tempo e espaço contado e determinado, ao som de tambores, perante as autoridades e a alta sociedade e em busca de notas estabelecidas por um corpo de burocratas.
Em outras localidades como, na Bahia as pessoas ricas marcham uniformizadas atrás dos caminhões ladeadas pela plebe faminta que segura suas cordas em troca de um pouco de cana e do sentimento de participar da “festa popular”.
Sabemos que futebol e samba não se aprende na “escola” e que “festa popular” tem que ter a participação do povo na festa, não na cozinha, mas ainda assim não enxergamos que o Carnaval se tornou puramente um comércio que atende os interesses de poucos.
As pessoas mantêm a idéia da liberdade porque vêm peitos e bundas à mostra em horário nobre e nas reprises durante a manhã e a tarde. Mantém o conceito de farra porque assistem crianças e adolescentes bebendo pelas ruas. E acreditam na esbórnia porque no fundo sabem que o nosso Carnaval tornou-se chinês, enquanto nas praias do mediterrâneo estão as pessoas que realmente aproveitam do carnaval brasileiro.


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