Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Em breve, uma Brasília diferente da exibida diariamente nos
telejornais ganhará as telas dos cinemas brasileiros. Dois
longas-metragens baseados na obra da banda Legião Urbana e na vida de
seu vocalista, Renato Russo, além de um documentário sobre o rock
brasiliense na década de 1980 prometem jogar luzes sobre um dos
momentos mais instigantes da música popular brasileira e atrair um olhar
diferenciado para a capital do país.
Dirigido pelo cineasta brasiliense René Sampaio, o longa-metragem Faroeste Caboclo
se inspira na famosa canção sobre a saga do “aprendiz de carpinteiro”
João de Santo Cristo no Distrito Federal (DF), onde ele se torna
“bandido destemido e temido” antes de conhecer Maria Lúcia, “uma menina
linda”, a quem ele promete seu amor. As principais cenas estão sendo
filmadas na Cidade Ocidental (GO), a cerca de 40 quilômetros do centro
de Brasília. As ruas do município goiano retomam as de Ceilândia no
final da década de 1970 – cidade do DF onde, na letra da música, ocorre o
duelo mais conhecido do rock nacional. A expectativa é que o filme seja lançado ainda este ano.
Com Fabrício Boliveira e Isis Valverde nos papéis de Santo Cristo e
Maria Lúcia, o elenco conta ainda com Felipe Abib, Antonio Calloni e um
grande número de figurantes. Segundo o produtor Marcello Maia, além de
quatro estudantes de cinema de uma universidade local, a produção
empregou mais de uma centena de profissionais brasilienses, gerando
empregos diretos e indiretos. E irá surpreender quem acha que Brasília
se limita aos cartões-postais do Plano Piloto.
“Santo Cristo representa um grupo de pessoas que vieram para Brasília
tentar a sorte de um destino diferente, mas a quem as desigualdades
sociais acabam impondo um outro caminho. A Ceilândia onde ele vive é um
contraponto a Brasília do Plano Piloto de Maria Lúcia. E, nas filmagens
no Plano Piloto, buscamos mostrar um tipo de vivência que as pessoas não
estão acostumadas a ver”, afirmou Maia à Agência Brasil, ao explicar que o trecho da infância de Santo Cristo será filmado na cidade de Paulínia (SP).
Outra produção a se apropriar de uma canção da Legião Urbana, Somos Tão Jovens
é dirigida por Antonio Carlos da Fontoura. O filme trata da
adolescência de Renato Russo, fase em que, devido a uma doença óssea
rara, o futuro ídolo tinha de permanecer em casa, lendo e sonhando com o
sucesso. Muitas das suas canções que mais tarde se tornariam conhecidas
começaram a ser compostas neste período.
Já o cineasta Vladimir Carvalho optou por garimpar em seu arquivo pessoal as imagens que utilizará no documentário Rock Brasília – Era de Ouro. Entre as muitas cenas históricas captadas pelo próprio documentarista há imagens como as do último show
da Legião Urbana em Brasília, realizado em 18 de junho de 1988, no
estádio Mané Garrincha, ocasião em que um quebra-quebra deixou centenas
de feridos.
“O documentário conta a jornada épica de bandas surgidas em Brasília,
nos anos 1980, como Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude,
Paralamas do Sucesso, e que se projetaram para o país todo, ajudando a
transformar a música nacional. Outra importante contribuição do
documentário será mostrar uma Brasília viva, contestadora e corajosa,
expondo a dinâmica das pessoas que vivem aqui e que tem uma ligação com a
cidade”, explica o produtor Marcus Ligocki, que vive na capital desde
1974 e para quem o fato de as três histórias estarem sendo produzidas
simultaneamente é uma “feliz coincidência”. “Esse é um tema
inquestionável e que ainda não havia sido abordado nos cinemas. Em algum
momento, esses filmes seriam feitos”, conclui Ligocki.
De acordo com o diretor de Cinema e Vídeo da Secretaria de Cultura do
Distrito, Sérgio Fidalgo, além de movimentar a economia local por meio
da contratação de mão de obra técnica e artística, um filme de qualidade
exibido para um grande público funciona como um fator de atração
turística, despertando nas pessoas o interesse de conhecer a cidade onde
as cenas foram rodadas.
“As pessoas vão ao cinema, se apaixonam pela locação e passam a querer
conhecer o lugar onde a história foi filmada. Ou seja, o filme atrai
turistas”, diz Fidalgo. Segundo ele, o governo da capital há tempos
discute formas de estimular produtores de todo o país a ambientarem suas
histórias no Distrito Federal, seguindo o exemplo de Paulínia (SP) que,
em troca de financiamento público, exige que parte da produção seja
rodada no município. Atualmente, o único instrumento de financiamento do
audiovisual em Brasília é o Fundo de Apoio à Cultura (FAC), concedido
apenas a produtores que vivem no Distrito Federal e graças ao qual o Rock Brasília pode ser gravado.
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