FERNANDA BASSET e ISIS BRUM
O desempenho dos alunos do 3.º ano do ensino médio no Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) piorou significativamente em língua portuguesa: em 2009, 29,5% deles estavam com notas abaixo do básico; em 2010 esse número saltou para 37,9%. A nota geral caiu de 274,6, em 2009, para 265,7, em 2010.
Tirar uma nota abaixo do básico – ou insuficiente – significa que o aluno não foi capaz de assimilar o mínimo do conteúdo esperado para aquela disciplina. Entre as competências esperadas para essa faixa de ensino o manual do Saresp lista, por exemplo, “identificar uma interpretação adequada para um determinado texto literário”.
Os dados dividem o rendimento dos alunos em três faixas: insatisfatório, suficiente – com subdivisão entre básico e adequado – e avançado. O número de alunos com nota abaixo do básico em matemática diminuiu quase um ponto porcentual de um ano para o outro: eram 58,3%, em 2009, contra 57,7%, em 2010. A nota geral ficou praticamente idêntica: 269,4, em 2009, e 269,2, em 2010.
Os resultados negativos aparecem três anos após o governo do Estado implementar o sistema apostilado na rede. Em 2008, foram distribuídos os cadernos para os professores, que funcionaram como guia para suas aulas e, a partir de 2009, estenderam-se para os alunos.
“Esse terceiro ano é o primeiro formado por esse sistema. Foi um expediente muito caro, em nome da melhoria do ensino. O governo precisa prestar contas disso”, cobra Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Ele diz que são estarrecedores os índices do Saresp deste ano e que Estado precisa adotar medidas sérias.
“Em matemática, não só a maioria está abaixo do básico, mas está insuficiente. Em português, o aumento dos insuficientes é significativo”, observa. “A linha de insuficiência devia ser zerada, pois significa que o aluno não está aprendendo nada”, analisa ele.
Apesar de os índices serem historicamente ruins, a não melhoria ou estagnação deles em patamares muito baixos demonstra que as políticas públicas estão sendo insuficientes. “É inadmissível para o Estado com mais recursos, mais riquezas do País”. Ele aponta para a necessidade de uma investigação séria sobre a crise de ensino na rede estadual. “Não podemos deixar os jovens saírem da escola nesses patamares. Não é só uma questão de crescimento econômico, mas de garantia de direitos humanos”, diz.
Para Maria Helena Guimarães, ex-secretária de Educação do Estado, os resultados são preocupantes porque não foi apenas a média geral dos estudantes que caiu – e sim porque mais alunos receberam o conceito insuficiente no Saresp 2010. “A queda de quase dez pontos na média geral é um indicador ruim. Mas, além disso, um bom resultado é aquele que aumenta o número de estudantes nos conceitos adequado e avançado e diminui o número de alunos com notas abaixo do básico”, diz.
O desempenho dos estudantes em matemática se manteve praticamente estável nos dois últimos anos, apesar de tradicionalmente os alunos se saírem pior nessa disciplina. “Os resultados de matemática não surpreendem porque seguem uma tendência de estagnação há vários anos. Não é surpresa que não melhorem. Agora, ter uma queda tão acentuada em português é algo que precisa ser explicado”, diz Maria Helena.
A ex-secretária foi a responsável por implementar o sistema apostilado no Estado, ainda na gestão de José Serra (PSDB), em 2008. O sindicato dos professores foi contra, mas o governo não alterou a medida e, no ano seguinte, passou a distribuir o caderno
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