30/06/2011

PMs são acusados de matar comerciante que negou propina em SP


André  Caramante  de São Paulo
O DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, concluiu que a morte do comerciante Alexandre Pereira da Silva, 30, foi cometida por integrantes de um grupo de extermínio formado por policiais militares e conhecido na zona norte de São Paulo como "Matadores do 18".
Silva foi morto a tiros em setembro de 2006 na avenida Elisio Teixeira Leite, Parada de Taipas (zona norte). No momento do crime, o filho do comerciante, à época com cinco anos, viu o pai ser morto por dois atiradores que chegaram ao lado deles em uma moto. A criança chegou a ser ferida e sobreviveu ao atentado.
Segundo o DHPP, Silva foi morto porque se recusou a pagar propina para que os PMs do grupo de extermínio fizessem segurança de suas máquinas caça-níqueis. Ou seja, os PMs queriam dinheiro para não deixar que as máquinas fossem roubadas ou apreendidas em operações da própria polícia. Os familiares da própria vítima admitiram à Polícia Civil que ela explorava o jogo ilegal em alguns pontos da zona norte da capital.
Os dois PMs acusados pela morte de Silva são o soldado Pascoal dos Santos Lima e o 2º sargento Lelces André Pires de Moraes, filho de um coronel reformado da PM.
Os dois estão no Presídio Militar Romão Gomes, no Jardim Tremembé (zona norte de São Paulo), pelo assassinato do coronel da PM José Hermínio Rodrigues, 48.
A perícia apontou que a mesma arma usada na morte do coronel Rodrigues, uma pistola.380, foi usada para atingir o comerciante Silva.
À Polícia Civil os dois PMs sempre negaram participação na morte de Silva e do coronel Rodrigues. A reportagem não conseguiu localizar seus advogados de defesa.
Quando foi morto, o coronel Rodrigues era comandante do policiamento da zona norte de São Paulo. Ele foi assassinado a tiros na manhã de 16 de janeiro de 2008, quando passeava de bicicleta pela avenida Engenheiro Caetano Álvares.
De acordo com o Ministério Público Estadual e o DHPP, Lima e Moraes mataram o coronel Rodrigues por vingança porque ambos estavam insatisfeitos com o fato de o oficial ter determinado que eles fossem retirados do serviço de patrulhamento das ruas na área do 18º Batalhão, e colocados no serviço burocrático da PM.
Para os responsáveis pela investigação do caso, os dois PMs acreditavam que, com a morte do coronel Rodrigues, ambos voltariam para o serviço nas ruas.
FARMACÊUTICO
O soldado Lima também já foi indiciado (acusado formalmente) sob suspeita de ter assassinado o dono de duas farmácias, também na zona norte de São Paulo.
Ainda segundo a investigação do DHPP, o comerciante Eder Walter Moreira foi morto a tiros quando saía de uma academia de ginástica, em novembro de 2006, na região da Vila Santa Maria, porque o PM tinha uma desavença com seu irmão, que é suspeito de traficar drogas.
Conhecido como "Monstro" nas ruas de São Paulo, o soldado Lima havia sido preso em 24 de janeiro de 2008 (oito dias após a morte do coronel Rodrigues) acusado de matar a mãe de um outro suposto traficante, mas depois foi colocado em liberdade pela Justiça.
Ao todo, Lima é suspeito de envolvimento em 12 atentados, entre chacinas e homicídios, que deixaram 17 mortos, segundo o DHPP.
Outra linha de investigação levantada pelo DHPP para a morte do coronel Rodrigues é a de que o soldado Lima Pascoal, acompanhado do segurança Wellington de Carvalho Franco (já preso) e de outros PMs que trabalham na zona norte da capital, disputavam pontos de venda de droga na região e cobravam propinas dos criminosos que não faziam parte do esquema para traficar para eles.
O segurança Franco chegou a assumir participação em três assassinatos nos quais diz ter agido junto com PMs do 18º Batalhão. Ele também é acusado de ajudar o soldado Lima a matar o comerciante Moreira, em novembro de 2006.
CHACINA
Os exames balísticos feitos nas cápsulas achadas ao lado do corpo do coronel Rodrigues e as recolhidas numa favela do Jardim Marcelina, na zona norte --onde seis pessoas foram mortas numa chacina, em 29 de junho de 2007-- deram positivo.
A perícia apontou também que a mesma arma, uma pistola.380, foi usada no assassinato do entregador de pizzas Valmir da Silva, 34. O crime ocorreu em junho de 2007, na Casa Verde Alta (zona norte de São Paulo). O soldado Lima já foi indiciado pela chacina. Ele nega todos os assassinatos.

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