22/09/2011

Crack invade as cidades da região



Entorpecente foi citado pelos municípios como a maior preocupação entre as drogas ilícitas

Marcelo Andrade
marcelo.andrade@jcruzeiro.com.br

O crack é a droga ilícita mais presente em Sorocaba, Votorantim e outras 31 cidades da região, segundo aponta um estudo realizado pela Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas da Assembleia Legislativa de São Paulo. O levantamento, que dimensionou a presença dos entorpecentes no Estado, indica que o crack corresponde a 33% das citações feitas por administrações municipais da região, atrás apenas do álcool, com 47%. A maconha aparece em terceiro lugar, com 10%, seguida pela cocaína, com 8%, enquanto que as drogas sintéticas, com a anfetamina e o ecstasy, somam 2% do total. O estudo apontou ainda que a faixa etária mais afetada está entre os jovens entre 16 e 25 anos, o que corresponde a mais da metade dos dependentes.

A Frente Parlamentar começou a ser criada em março com a intenção de discutir o tema e encontrar formas de proporcionar aos municípios melhores instrumentos para conter o avanço das drogas. É formada por 25 deputados, entre os quais o sorocabano Hamilton Pereira (PT). 
A pesquisa foi organizada a partir de levantamentos junto às prefeituras, que responderam, entre junho e agosto, a questionário enviado pelos deputados estaduais. Dos 645 municípios paulistas, 325 participaram - representando 76% da população de São Paulo. Das 79 cidades que integram a região administrativa de Sorocaba, 33 forneceram informações.

De acordo com o estudo, um dado avaliado como preocupante é a distribuição por faixa etária. Entre os mais novos, 9 a a 15 anos, o índice de usuários representa 4% do total na região de Sorocaba. Para os jovens de 16 a 20 anos foi de 25%, de 21 a 25 anos, 31%. Entre 26 a 30 anos, chegou a 15%, enquanto que para adultos de 31 a 35 anos, alcançou 9% e, para os que têm acima de 35 anos, o resultado foi de 16%.

O levantamento da frente parlamentar mostrou, ainda, que 50% dos municípios da região informaram que mais da metade dos usuários volta a consumir drogas depois de atendidos. Em 22% da região, o índice de reincidência chega a 91%. O estudo apontou também que em Sorocaba e região o problema da falta de leitos públicos destinados ao tratamento de dependentes químicos está acentuado, pois 94% das cidades não reservam leitos para dependentes químicos. De acordo com o levantamento, apenas as cidades de Apiaí e Avaré destinam vagas exclusivas para esse tipo de tratamento.

Quase todos os recursos empregados pelas 33 cidades da região para frear o consumo de entorpecentes vêm dos cofres municipais. Segundo o estudo, 97% das prefeituras (32) informaram que não recebem verbas do governo do Estado para aplicar no enfrentamento ao crack e outras drogas. Mais participativo, o governo federal envia dinheiro para 9% da região para investir no combate às drogas, ainda de acordo com o que responderam as administrações municipais. Mesmo assim, 91%, ou seja, 30 cidades não recebem verba alguma da União para esse fim. O relatório não traz a relação de quais seriam tais cidades beneficiadas ou não pelos governos estadual e federal. O estudo apontou ainda que 56% dos municípios participantes na região ajudam entidades que atendem dependentes químicos.
 
Recursos de R$ 124 mi 
De acordo com o presidente da Frente, o deputado Donisete Braga (PT), a partir dos resultado obtido pelo estudo, a frente, em conjunto com municípios, instituições e ainda com a Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania, deverá pensar em propostas de gestão compartilhada para enfrentar o problema das drogas. "O que nos motivou a fazer esse estudo foi a rápida proliferação do crack no Brasil e em São Paulo, e também a informação de que o governo do Estado não tem mapeamento detalhado", afirmou.

De acordo com o deputado, aumentar o repasse de verbas para atendimento de dependentes e espalhar centros de referência para acolhimento e tratamento dos usuários são duas das políticas que podem ser adotadas para conter o avanço das drogas em São Paulo. O parlamentar informou ainda que os municípios que participaram dos questionamentos, quando perguntados sobre o montante que seria necessário para o enfrentamento ao crack e outras drogas, os recursos necessários, juntos, chegaram a uma verba anual de R$ 124 milhões. Já a previsão do Estado é de apenas R$ 50 milhões por ano, ou seja, metade, e assim mesmo, estes R$ 50 milhões terão que cuidar também da saúde bucal e do idoso.

Ainda de acordo com o deputado, a frente parlamentar irá lançar portal para acompanhar o resultado do trabalho das cidades paulistas no combate às drogas. "Falta integração entre os municípios e o governo do Estado e União para darmos melhor tratamento aos dependentes químicos. É uma questão de saúde pública, de se criar políticas eficientes de orientação e prevenção", argumentou.
 
"Não escapa nenhum" 
Segundo o deputado Donisete Braga, na primeira semana de outubro, a presidente da República, Dilma Rousseff (PT), lançará o plano nacional de enfrentamento ao crack. Na semana seguinte, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, é esperado na Assembleia Legislativa. A expectativa, contou o coordenador da frente parlamentar, é de que o ministro anuncie mais repasses da União para atendimento dos usuários, elevando o valor da diária de R$ 57 para R$ 200. O reconhecimento das comunidades terapêuticas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária também auxiliará o tratamento. 

Integrante da Frente Parlamentar, o deputado sorocabano Hamilton Pereira destaca que o levantamento mostra uma realidade mais preocupante entre os municípios entre 50 mil e 100 mil habitantes, onde o índice de uso de crack acaba equiparando-se ao de álcool. "Porém, o diagnóstico que é comum a todos os municípios e que é muito preocupante refere-se à ausência de iniciativas para se discutir políticas de atendimento e disso não escapa nenhuma das três esferas de governo". 

Cada vez mais cedo 
O presidente da Associação Protetora dos Insanos de Sorocaba (Apis), que mantém uma rede de atenção psicossocial na cidade em parceria com o governo federal e a Prefeitura, incluindo os cinco Centros de Atenção Psicossocial (Caps), sendo dois deles Caps-AD (Álcool e Drogas), e um específico para o público infanto-juvenil, revela que a instituição chega a prestar assistência a crianças com oito anos de idade, já envolvidas com problemas de dependência química. 

Segundo ele, a participação da família e o tratamento precoce são fundamentais para a cura. "É difícil de entender e aceitar, mas temos pacientes com oito anos de idade. E, é nesse aspecto que temos que aumentar o número de Caps e consequentemente, a assistência. Infelizmente, se a sociedade não se envolver, como um todo, no combate às drogas, nós já entraremos numa batalha perdida num futuro próximo."

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