Regina Helena Santos
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A eleição para a escolha da diretoria que assumirá o Conselho Regional de Enfermagem (Coren) do Estado de São Paulo pelos próximos três anos foi marcada por muita confusão em Sorocaba. Durante toda a manhã deste domingo, milhares de enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem inscritos no órgão - e, portanto, obrigados a votar sob pena de multa - se acumularam em frente a uma escola localizada na Vila Hortênsia, o único posto de votação da região. Diante de uma fila quilométrica - que nas primeiras horas da manhã desceu pela rua Nogueira Padilha chegando até a ponte da rua 15 de Novembro - e da demora no atendimento, muitos profissionais tentaram invadir o local. Houve tumulto e a Polícia Militar foi acionada. Uma informação equivocada de que o processo eleitoral teria sido cancelado fez com que muitos eleitores deixassem o local por volta das 10h30. Porém, depois de suspensa por cerca de 20 minutos, a votação continuou até o final da tarde, mas ainda com muita confusão.
Representantes do Coren responsáveis pela organização do processo eleitoral na cidade alegaram que não tinham autorização para dar entrevista à imprensa e explicar o motivo da confusão. Informações extra-oficiais deram conta de que um total de oito mil profissionais foram convocados para votar na escola em Sorocaba, muitos vindos, inclusive, de cidades da região - como Itu, Porto Feliz, Capela do Alto e Salto de Pirapora - e até de municípios mais distantes, como Jundiaí. Apesar da direção do colégio, que apenas cedeu a estrutura física para o pleito, informar que disponibilizou um total de 20 salas para a realização da eleição, apenas cinco urnas foram abertas aos profissionais da área de saúde. O processo de votação, ainda segundo informações extra-oficiais, foi realizado com cédulas em papel e a identificação de cada eleitor feita por meio de listas, um dos principais motivos da demora. "Trabalho durante a semana toda e tenho só o domingo para fazer as coisas que preciso. Isso é um absurdo. Nem na eleição para presidente do Brasil enfrentamos uma situação assim", reclamou a técnica de enfermagem Paula Terezinha Turino.
Muitos dos profissionais que se acumulavam nas calçadas e na rua em frente ao colégio para votar estavam em horário de trabalho e reclamavam que não poderiam permanecer tanto tempo longe dos plantões. "Estamos aqui, mas temos mais três turmas, lá no hospital, que precisam sair para votar. Só consegui porque furei fila", admitiu a técnica de enfermagem Maysa Damaris Borba, que trabalha no Hospital Evangélico. "Estamos em dez pessoas aqui, mas precisamos voltar logo para o trabalho. Trouxemos o documento que comprova que estamos de plantão, mas eles não estão aceitando que a gente passe na frente", reclamou a enfermeira Iraíde Domingues, funcionária de uma clínica psiquiátrica em Salto de Pirapora.
Segundo os profissionais da saúde, essa foi a primeira vez, desde 1996, que as eleições para a presidência do Coren-SP ocorreram neste formato. Em anos anteriores, quando havia apenas uma chapa inscrita, o processo foi feito por meio de correspondências enviadas pelos Correios. Neste pleito, três chapas concorrem ao cargo de direção, o que acabou gerando a votação presencial, pela necessidade de lisura do processo. Além de Sorocaba, também foram registrados tumultos nas cidades de Ribeirão Preto, Osasco, Piracicaba, Santo André e na capital paulista. No total, 295 mil profissionais foram convocados a votar e tiveram à disposição 225 urnas, espalhadas em 55 postos. O voto é obrigatório aos enfermeiros, técnicos e auxiliares com registro definitivo. Os que não votaram precisam justificar a ausência no prazo de 120 dias, sob pena do pagamento de multa referente ao valor de uma anuidade - em torno de R$ 200, dependendo do salário e função exercida.
Coren-SP responde
O Coren-SP enviou nota de esclarecimento sobre os incidentes ocorridos durante a eleição, alegando que "a agitação foi promovida nas seções eleitorais por representantes das chapas de oposição à gestão atual, causando reações de pavor nos profissionais convocados para atuar no processo eleitoral."
Segundo Edmilson Viveiros, presidente em exercício do Coren-SP, o atraso, despertou o sentimento de descontentamento entre os eleitores, que chegaram cedo às seções eleitorais, muitos deles vindos diretamente de uma noite de plantão. Em relação às eleições não terem sido realizadas pelos Correios, a exemplo de anos anteriores, eles explicam que o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) vetou a realização da votação por correspondência, alegando que o depósito de voto em urna pelo próprio profissional tornaria inquestionável a lisura do processo eleitoral.
Edmilson Viveiros lembra, ainda, que tumultos provocados por ativistas atingiram, em todo o estado, 12 seções eleitorais. Nas demais 43, apesar do grande fluxo de profissionais, as eleições transcorreram de forma pacífica.
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