27/10/2011

Oposição adia enterro de investigação na Assembleia de SP


Fernando Donasci/Folhapress

RODRIGO VIZEU

DE SÃO PAULO

A oposição na Assembleia Legislativa de São Paulo conseguiu nesta quarta-feira (26) adiar a tentativa da base aliada do governo estadual de enterrar a apuração do Conselho de Ética sobre o esquema de venda de emendas na Casa.
Devido a manobras dos petistas para prolongar a sessão, o conselho não votou proposta do líder do PTB, Campos Machado, de encerrar o caso e mandar o que foi apurado ao Ministério Público Estadual.
O conselho de reúne de novo nesta quinta (27), mesma data marcada pelo PT para protestos de movimentos sociais na Assembleia para pedir investigação e criação de CPI do caso.
Como a reunião é pela manhã e o protesto é à tarde, a oposição vai tentar alongar a reunião para dar tempo que os deputados sofram pressão dos manifestantes.
Os oposicionistas vão tentar convidar para falar o deputado Dilmo dos Santos (PV), membro dos do conselho, que foi alvo de insinuações do deputado Roque Barbiere (PTB), que se tornou pivô do escândalo ao afirmar, em agosto, que até 30% dos deputados negociam emendas.
Em discurso no plenário, na noite de terça (25), Barbiere voltou a negar dar nomes à Assembleia e prometer entregar deputados vendedores de emenda apenas ao Ministério Público. Em seguida, disse: "A imprensa, sem que eu desse um nome já podia investigar. Por exemplo --esse eu já assumo-- o membro do Conselho de Ética José Dilmo [sic] mandou para a minha região sete emendas para barracões".
Sem acusar Dilmo diretamente, o petebista citou então reportagens da Folha sobre emenda do colega do PV para Lourdes, no noroeste de São Paulo, onde não teve votos. Autoridades envolvidas com a obra, licitada pela prefeitura, não souberam definir para ela serviria. Quem realiza a obra é um ex-prefeito da região e a engenheira da empresa dele é a mesma de uma das empresas derrotadas.
"O que significa? Que esse prefeito não correu atrás desta verba, ela foi oferecida a ele por alguém", disse Barbiere. "Isso é normal? Não é normal."
Barbiere continuou: "Lá, no Ministério Público, que pode quebrar o sigilo telefônico, fiscal, bancário, que tem muito mais espírito de punibilidade que o nosso, vou dar alguns nomes para que sejam aferidos. Lá, sim, vou levar testemunhas. Lá, sim, alguns deputados que se utilizaram do expediente de venda de emendas --e vou comprovar isso, ao final dessa história-- serão penalizados".
Dilmo nega irregularidades e se disse disposto a prestar esclarecimentos ao Conselho de Ética.
Embora seja o principal interlocutor de Barbiere, Campos Machado defendeu Dilmo na sessão do conselho desta quarta. "Se eu tiver que carimbar uma pessoa com o carimbo da honestidade e da decência, não tenha dúvida, eu poria a mão na sua cabeça", disse, ao lado de Dilmo, que ouviu calado.
Campos disse que Barbiere ligou nesta quarta para Dilmo e pediu desculpas, afirmando que "em nenhum momento se referiu" ao deputado do PV. Barbiere não quis comentar a história.
ASSÉDIO MORAL
Aliado do governo, Campos Machado lidera a operação para encerrar os trabalhos no Conselho de Ética. Nesta quarta, ele falou praticamente sozinho pela base aliada, enquanto deputados do PSDB se mantiveram discretos.
Campos negou defender que o caso acabe em "pizza" e chamou os protestos orquestrados pelo PT de "assédio moral". "Não estou pedindo para paralisar, estou pedindo para investigar na Promotoria. Aqui é jogo político", disse.
Embora a base aliada reúna maioria para derrubar unida pedidos da oposição, o deputado disse que no conselho "não tem oposição nem situação".
TESTEMUNHA
Deputados de PT e PSOL defenderam chamar para falar no conselho a testemunha Terezinha Barbosa, dirigente de uma entidade assistencialista que relatou a existência de esquema com emendas. Em entrevista publicada na Folha desta quarta, ele confirmou o esquema, mas se negou a dar nomes e disse ter medo de morrer. O deputado Major Olímpio (PDT), que revelou o relato dela, defendeu que o Estado dê segurança à testemunha.
O presidente do Conselho de Ética, Hélio Nishimoto (PSDB), se opôs à convidá-la, uma vez que "já está público" que ela se nega a entregar deputados.

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