Antonio Hamilton Martins Mourão defendeu
intervenção caso crise enfrentada pelo Brasil não seja resolvida pelas próprias
instituições
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Setembro 2017 | 19h50
Brasília - O general do Exército da ativa Antonio
Hamilton Martins Mourão falou por três vezes na possibilidade de intervenção
militar diante da crise enfrentada pelo País, caso a situação não seja
resolvida pelas próprias instituições. A afirmação foi feita em palestra
realizada na noite de sexta-feira, na Loja Maçônica Grande Oriente, em
Brasília, após o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciar
pela segunda vez o presidente Michel Temer por participação em organização
criminosa e obstrução de justiça. Janot deixou o cargo nesta segunda-feira.
A atitude do
general causou desconforto em Brasília. Oficiais-generais ouvidos peloEstado criticaram a afirmação de Mourão, considerada desnecessária neste
momento de crise.
“Ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário,
retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou
então nós teremos que impor isso”, disse Mourão em palestra gravada,
justificando que “desde o começo da crise o nosso comandante definiu um tripé
para a atuação do Exército: legalidade, legitimidade e que o Exército não seja
um fator de instabilidade”.
O general Mourão seguiu afirmando que “os Poderes terão que buscar
uma solução, se não conseguirem, chegará a hora em que teremos que impor uma
solução… e essa imposição não será fácil, ela trará problemas”. Por fim,
acrescentou lembrando o juramento que os militares fizeram de “compromisso com
a Pátria, independente de sermos aplaudidos ou não”. E encerrou: “O que
interessa é termos a consciência tranquila de que fizemos o melhor e que
buscamos, de qualquer maneira, atingir esse objetivo. Então, se tiver que haver
haverá”.
Procurado neste domingo, Mourão explicou, no entanto, que não
estava “insuflando nada” ou “pregando intervenção militar” e que a
interpretação das suas palavras “é livre”. Ele afirmou que falava em seu nome,
não no do Exército.
Ao Estado, o comandante do Exército,
general Eduardo Villas Bôas, foi enfático e disse que “não há qualquer
possibilidade” de intervenção militar. “Desde 1985 não somos responsáveis por
turbulência na vida nacional e assim vai prosseguir. Além disso, o emprego
nosso será sempre por iniciativa de um dos Poderes”, afirmou Villas Bôas, acrescentando
que a Força defende “a manutenção da democracia, a preservação da Constituição,
além da proteção das instituições”.
Depois de salientar que “internamente já foi conversado e o
problema está superado”, o comandante do Exército insistiu que, qualquer
emprego de Forças Armadas, será por iniciativa de um dos Poderes. No sábado, o
ministro da Defesa, Raul Jungmann, conversou com o comandante do Exército, que
telefonou para o general Mourão para saber o que havia ocorrido. O general,
então, explicou o contexto das declarações.
Polêmicas
anteriores
Esta não é a
primeira polêmica protagonizada pelo general Mourão, atual secretário de economia e finanças do
Exército, cargo para o qual foi transferido, em outubro de 2015, quando perdeu
o Comando Militar do Sul, por ter feito duras críticas à classe política e
ao governo.
Antes, ele já havia desagradado ao Palácio do Planalto, ao ter
atacado indiretamente a então presidente Dilma Rousseff ao ser questionado
sobre o impeachment dela e responder que "a mera substituição da PR(
presidente da República) não trará mudança significativa no 'status quo'"
e que "a vantagem da mudança seria o descarte da incompetência, má gestão
e corrupção".
Neste
domingo, ao ser procurado pelo Estado, o general
Mourão disse que “não está insuflando nada” e que “não defendeu (a tomada de
poder pelos militares), apenas respondeu a uma pergunta”. Para o general, “se
ninguém se acertar, terá de haver algum tipo de intervenção, para colocar ordem
na casa”. Sobre quem faria a intervenção, se ela seria militar, ele responde
que “não existe fórmula de bolo” para isso. E emendou: “Não (não é intervenção
militar). Isso não é uma revolução. Não é uma tomada de poder. Não existe nada
disso. É simplesmente alguém que coloque as coisas em ordem, e diga: atenção,
minha gente vamos nos acertar aqui e deixar as coisas de forma que o País
consiga andar e não como estamos. Foi isso que disse, mas as pessoas
interpretam as coisas cada uma de sua forma. Os grupos que pedem intervenção é
que estão fazendo essa onda em torno desse assunto”.
Mourão estava
fardado ao fazer a palestra. Ele permanece no serviço ativo no Exército até
março do ano que vem, quando passará para a reserva. O general Mourão disse ao Estadoque não vai se candidatar,
apesar de existir página nas redes sociais sugerindo seu nome para presidente
da República. “Não. Não sou político. Sou soldado”.
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