Do site do PSB
No dia 2 de maio de 1997, há 26 anos, morria o patrono da educação brasileira Paulo Freire, aos 75 anos. Internado um dia antes, no hospital Albert Einstein, em São Paulo, para tratamento de uma angina, o educador foi vítima de um infarto agudo do miocárdio. Freire foi velado no teatro da PUC de São Paulo, instituição na qual atuou como professor, em 1979, quando retornou ao Brasil após 16 anos no exílio motivado pela ditadura militar de 1964. Seu sepultamento foi realizado no Cemitério da Paz, em São Paulo.
Nascido em 19 de setembro de 1921, no bairro da Casa Amarela, no Recife, o pernambucano Paulo Reglus Neves Freire era o caçula de quatro irmãos, filho de Joaquim Temístocles Freire e de Edeltrudes Neves Freire. Em busca de uma vida melhor, a família mudou-se para Jaboatão dos Guararapes, a 18 Km da capital pernambucana.
Paulo Freire foi alfabetizado pela professora Eunice Vasconcelos. Bolsista do colégio Oswaldo Cruz, no Recife, aos 16 anos, concluiu o primeiro ano do Ginásio, idade com que aqueles que tinham condições financeiras já ingressavam na faculdade. Aos 22 anos, ingressou na Faculdade de Direito do Recife, mas não exerceu a profissão. O mesmo colégio que o acolheu como bolsista na adolescência, o contratou como professor de língua portuguesa e foi nesse momento que Paulo Freire descobriu a paixão que tinha pelo ensino. Ainda nessa época, conheceu a professora primária e alfabetizadora Elza Maia Costa Oliveira, com quem se casou anos depois, em 1944, e teve cinco filhos. A união durou 42 anos, até a morte dela em 1986. Elza foi uma de suas principais inspirações na sua trajetória como educador. Após dois anos e por passar um período de depressão com a morte da primeira esposa, Freire se casou com a também educadora Ana Maria de Araújo Freire, a Anita Freire.
Entre 1947 e 1954, assumiu o cargo de diretor do setor de Educação do Sesi (Serviço Social da Indústria) do Recife, que havia sido recém-criado no país. Nesse trabalho, teve contato com a educação de adultos e trabalhadores e percebeu a necessidade de realizar um trabalho direcionado à alfabetização. Freire conheceu então a realidade dos trabalhadores, as particularidades da sua linguagem e se dedicou a estudá-la, consolidando seus trabalhos em educação popular. Em 1956, foi nomeado, juntamente com outros oito educadores, membro do Conselho Consultivo de Educação do Recife. Formou-se doutor em Filosofia e História da Educação em 1959, com a tese “Educação e Atualidade Brasileira”, pela Universidade do Recife, onde atuaria depois como professor e um dos fundadores do Serviço de Extensão Cultural.
Revolução na educação, no governo de Arraes
Em 1961, Paulo Freire foi nomeado diretor da Divisão de Cultura da Secretaria Municipal de Educação pelo então prefeito do Recife, Miguel Arraes. Junto com Arraes, que investiu decisivamente para a criação de uma rede pública de ensino no Recife, fundou o Movimento de Cultura Popular (MCP) e liderou uma grande corrente de alfabetização. Conhecida como Método Paulo Freire, essa corrente tinha como proposta atar o aprendizado da escrita e da leitura pelos mais pobres à conscientização das suas condições de submissão e passividade diante do mundo. Dessa forma, Freire pretendia despertar nessa camada mais carente o seu real valor diante da sociedade opressora. Freire revelou ao mundo uma educação além da sala de aula, capaz de ensinar conteúdos e comportamentos socialmente esperados e aceitos, além de conscientizar os jovens e adultos trabalhadores, homens do campo e da cidade.
Freire engajou-se também na campanha de alfabetização na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, em 1962. Ele conseguiu alfabetizar 300 trabalhadores rurais em 45 dias e isso se tornou uma das suas mais marcantes experiências na época. Com o êxito nessa campanha, o intelectual foi convidado pelo ministro da Educação do governo Jango, Paulo de Tarso Santos, para coordenar o Programa Nacional de Alfabetização, colocado em prática em 1964. O programa pretendia alfabetizar 5 milhões de adultos em mais de 20 mil círculos de cultura. Entretanto, com o início do golpe militar, o programa foi extinto.
Paulo Freire foi considerado subversivo pelo regime autoritário e foi preso duas vezes. A Embaixada da Bolívia foi a única que o aceitou como refugiado político e, em setembro de 1964, ele deixa o Brasil rumo ao exílio. Entretanto, devido ao golpe naquele país, o educador passou a morar no Chile. Nesse período, lançou a obra “Pedagogia dos Oprimidos”, em 1968, uma de suas principais obras. O livro foi lançado no Brasil apenas em 1974 por razões políticas.
Em 1969, foi convidado a lecionar nos Estados Unidos como professor visitante na Universidade de Harvard e escreveu seu livro “Ação Cultural para a Liberdade”. No ano seguinte, foi para Genebra, na Suíça, assumiu o cargo de consultor do Conselho Mundial das Igrejas e ganhou dimensão mundial. A partir daí, passou a atuar como consultor educacional em países como Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola, Moçambique, além de localidades na América Latina e Ásia.
O retorno de Paulo Freire ao Brasil, em junho de 1980, com a Lei da Anistia, foi um momento marcante para a educação do país. Aos 57 anos, Freire regressou e foi convidado para lecionar na Faculdade de Educação da Unicamp. Logo depois, ingressou no Programa de Estudos Pós-graduados em Educação da PUC de São Paulo. Neste mesmo ano, recebeu o Prêmio Internacional Rei Balduino para o Desenvolvimento do Terceiro Mundo, em Bruxelas, na Bélgica. Em 1986, foi premiado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) com o prêmio Educação pela Paz.
Em 1989, Paulo Freire tornou-se secretário de Educação municipal da então prefeita Luiza Erundina em São Paulo. Como secretário, atuou de forma integral reformando escolas, reformulando o currículo escolar, capacitando os professores e formando o pessoal administrativo e técnico. Saiu do cargo em maio de 1991 e, nesse mesmo ano, foi fundado o Instituto Paulo Freire. Outros 26 centros educacionais receberam o nome do educador pelo mundo. Com a saída do cargo de secretário, passou a se dedicar novamente a escrever livros e artigos e voltou à docência na PUC/SP.
Em 1997, ano de sua morte, Paulo Freire escrevia o terceiro capítulo do livro “Cartas Pedagógicas”, no qual analisa a banalização da violência como resultado de uma educação precária. Autor de quase 40 obras, o intelectual brasileiro concebeu uma produção rica e essencial para a educação popular e deixou um legado progressista que reflete até os dias atuais em áreas como a filosofia, a literatura e a história.
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